Olá, pessoal!

Eu sei que não é usual eu publicar dois artigos na mesma semana, aqui na minha coluna, mas a vivência do dia me rendeu um excelente textinho que gostaria muito de compartilhar com vocês.

Hoje venho falar do machista, personagem do meu cordel “O Machista e a Cordelista”, que, como já falei algumas vezes, é um personagem real. Este rapaz em questão, há alguns meses, me bloqueou de seu Facebook, bem antes de eu pensar em escrever meu cordel sobre ele, qdo postou um texto por lá, dizendo que achava que o papel do homem no desenvolvimento de um filho, assim que uma mulher engravidava era praticamente nulo, porque o homem é somente um doador de esperma e a mãe é que é a verdadeira responsável por toda a concepção do bebê, e eu retruquei achando um tremendo absurdo. Depois de um tempo, resolvi bloqueá-lo de meu Instagram, pois só servia pra me bisbilhotar e isso de nada me contribuía, haja vista a forma machista com que por lá se exibia também.
Pois bem, na semana passada, eu soube por um amigo em comum, que ele publicou um novo livro, depois de um primeiro que eu havia lhe ajudado a publicar, quando esse amigo fez propaganda dessa nova publicação. Fiquei curiosa e fui atrás do livro, que ainda nem lançado foi, mas consegui com a editora. Era até um livro que ele já havia compartilhado comigo o miolo dele e apenas agregou a esse material alguns outros contos. E pasmem: material altamente machista, disfarçado de “autoficção do absurdo que critica, com ironia, temas politicamente incorretos”, como diz em sua sinopse, claramente para que ele não seja digamos que cancelado pelo leitor.
Eu confesso que depois de um tempo, fiquei até com dó e ao mesmo tempo achei interessante esse seu empenho e coragem de bancar essa nova publicação. Resolvi então dar uma segunda chance na amizade, chamar para conversar sobre o livro, entender essa “autoficção do absurdo que critica, com ironia, temas politicamente incorretos” e também entregar-lhe em mãos o cordel “O Machista e a Cordelista”, explicando com paciência o meu lado, e como me sentia para ter feito tal publicação, na esperança de acertarmos os ponteiros e seguirmos em frente, sem mágoa, afinal, mágoa nenhuma faz bem, e também para que tais conceitos e atitudes ruins e pejorativas que vejo em sua obra pudessem continuar a ser desconstruidas.
Então mandei uma mensagem pelo WhatsApp (único canal não bloqueado) com a foto do livro dele e perguntando se podíamos conversar e tomar um café. Não obtive resposta. No outro dia, resolvi passar na portaria dele com dois cafés, o livro dele e o meu cordel. O porteiro, um fofo, que sempre recebia os livros que eu deixava na portaria para ele ler, interfonou feliz, e quando voltou a falar comigo já estava com a cara de super constrangimento, dizendo que ele não estava, que só estava a faxineira. Eu perguntei se podia esperar ele voltar. Ele interfonou novamente e gaguejava dizendo que ele tinha saído cedo e viajado pra praia. Bem, voltei pro carro e mandei mensagem dizendo: “seu porteiro mente muito mal, vc pode descer antes que o café esfrie?” E mais várias outras mensagens. Ele entrava online, visualizava e nada dizia. Então resolvi escrever assim:

“Bem, creio que realmente não esperava mais de vc do que isso. Obrigada por mais uma vez me mostrar quem vc de verdade é. Segue o pdf do meu novo cordel, que estou lançando nas principais bienais, flip e outros eventos. É sobre vc. Eu gostaria de te explicar pessoalmente, pra que não lhe seja um insulto. Mas explica sobre como me sinto, me senti. Hj mais uma vez me sentindo a partir de como vc trata as pessoas (mulheres em geral). Gostaria de explicar pessoalmente, mas não me foi dada a oportunidade. Bem, acho que é isso. Adeus. Adeus, pra todo o sempre.”

E então o bloqueei, finalmente no WhatsApp também . Vida que segue. Sinto que fiz minha parte. E agora estou mais leve por não sentir que estou falando pelas costas de um tal alguém.

E bora com um trechinho do meu cordel “O Machista e a Cordelista”:

Esses dias li um texto
No qual o rapaz falava
Que o pai de uma criança
O próprio esperma doava
E depois era com a mãe
Nada mais lhe importava.

Questionei a alegação
Que me veio como um tiro
Não há nada mais machista
Quase que nem mais respiro
Ele então me bloqueou
Assim não mais interfiro.

E lembrei de outros textos
Sobre bundas de mulher
Tratadas como objeto
Altas, magras que ele quer
Mesmo que seu tipo físico
Não seja “padrão” sequer.

Homem pode não cuidar-se
Mulher tem que andar na linha
Se é “feia”, é amiga
Se trata bem, é galinha
Assim o machista pensa
Com a fala tão mesquinha. 

Beijos de luz, meus amores!
Graziela Barduco.

Graziela Barduco