É, não precisa falar. Sabemos que a palavra cansada é quase um sinônimo de você nos últimos três anos, três meses e três dias. Afinal, a chegada de duas novas bebês durante este período (sem contar com a primeira que você teve antes), não poderia oferecer um cenário diferente do que você vive atualmente, principalmente do ano passado para cá. Ainda que, em muitos momentos, você não transpareça.

Hoje, temos quase o triplo do nosso tamanho original. Seu pescoço, tem doído muito? A gente quer muito te pedir perdão por isso. Sabemos que nos carregar não tem sido uma missão muito fácil. O número de tops e sutiãs perdidos não nos deixa mentir não é verdade?

Realmente a chegada das suas bebês, nos transformou. De manhã até tentamos fazer você se sentir uma “Pâmela Anderson”. Aí vem o final do dia, e com ele a singela prévia do que vai acontecer quando o período de lactação acabar.

Somos sugados de forma tão vigorosa que não temos mais dó de nós, mas de você, que tem que nos sustentar. E quando, além das sugadas, viramos objetos de brincadeiras, apertões, beliscos e até de algumas mordidas ainda que sem querer? A gente sabe que não é por mal. Mas que dói, dói! Mesmo que ele venha seguido de um lindo sorriso inocente. O que seria de nós, se não fosse você para alertar este terceiro novo ser, que tomou posse da gente sem pedir licença, de novo?

Desde então, criamos uma espécie de “vida própria”. Uma experiência pra lá de inusitada e que, por mais estranho que pareça, é depois de ouvirmos um choro deste ser, que entramos em ação. Você sabe! Choramos juntos! Quantas blusas suas já molhamos antes de sermos abocanhados pela boca da sua filhote?

Mas, de tudo de esquisito que já passamos, o lidar com os olhares externos sobre nós é o mais tosco. Quantos já olharam primeiro para nós e só depois é que você foi enxergada? E o mais estranho de tudo isso, é que, muitos destes olhares, não são de apoio! O que a gente sente (e não compreende) é a tal da indignação alheia pela sua escolha de continuar amamentando, seja em casa ou em espaços públicos, mesmo com as intempéries da sua vida. Alguns questionam, por que escolher nos manter assim, sempre cheios e “a mostra” se a “modernidade” já apresenta tantas outras opções? Mas olha, a gente quer te dizer uma coisa: Apesar da gente saber que você não liga muito para esse tipo de questionamento, não liga não tá?

Somos tua verdade em feminilidade! Abocanhados, esmagados, sugados ou cansados, somos sagrados! Fonte de fortaleza, alimento, proteção, amor, ação, pura emoção! Cheios ou vazios, nunca iremos te abandonar!

Somos gratos por tudo até aqui.
Com carinho,
Seu par de seios.

Como resposta, exponho os versos publicados no livro Maternagem em Sete Versos:

Meu bebê quando adormece
Eu que fico a contemplar,
Minha ocitocina aumenta
Faz meu peito transbordar,
Desse líquido de amor
Que transcende toda dor:
Leite para amamentar.

Dani

Dani Almeida

Dani Almeida é mãe de 3 meninas e um anjo. É arte-educadora, poeta-cordelista, escritora e jornalista especializada em gestão e educação da infância com ênfase na contação de histórias. Criadora do método CriAtive Cordel, realiza oficinas e workshops sobre cordel e espetáculos de contação de histórias. É autora da obra Maternagem em Sete Versos (editora MWG) e de dezenas de títulos em literatura de cordel, dentre eles o "Luta Contra a Violência Feminina em Cordel" (apresentado no programa Criança Esperança em 2019). Para saber mais sobre Dani acesse: www.danialmeida.com ou as redes sociais @danialmeidacordel