Unidas na luta contra o machismo na literatura de cordel, mulheres cordelistas de diversos estados do Brasil participam de uma grande mobilização nas redes sociais chamada de Cordel sem Machismo, a fim de despertar a reflexão da sociedade sobre o tema.

A hashtag #cordelsemmachismo tem sido compartilhada em várias plataformas digitais e ganhado o apoio de pessoas dos mais variados segmentos sociais, até mesmo da reconhecida líder defensora dos direitos femininos, Maria da Penha e da monja Coen. Mais de cem mulheres já aderiram a campanha, dentre elas as integrantes do recém-criado coletivo paulista Teodoras do Cordel – Artevistas SP, composto por mulheres escritoras e das artes em geral, defensoras da literatura de cordel.

Criado no dia primeiro de julho, em plena pandemia, o coletivo surgiu com o objetivo de difundir ações de fortalecimento deste gênero literário e tudo o que está envolvido com o mundo do cordel, com foco nas mulheres que desenvolvem este trabalho. “ Queremos incentivar o cordel sem censura, sem opressão, sem machismo e também promover o cordel através de ações, eventos, saraus, oficinas e ações de fortalecimento e formação de leitores”, explica Dani Almeida, uma das fundadoras do grupo.

As integrantes do coletivo tem se reunido quinzenalmente de forma virtual e acolhido novas integrantes. Elas também participam da mobilização nacional Cordel sem Machismo que teve início a partir da criação de uma nota de repúdio que contou com a assinatura de dezenas de coletivos literários do País. A iniciativa aconteceu em decorrência de ataques realizados nas redes sociais contra a cordelista sergipana Izabel Nascimento, durante a realização de uma palestra virtual ocorrida no dia 27 de junho. Nela a escritora pontuava questões relacionadas ao machismo no Cordel.

Para Benedita De Lazari, poetisa precursora do cordel feminino no Estado de São Paulo e também integrante do Teodoras do Cordel, não é de hoje que a competência das mulheres é colocada em questão. “Atuo no cordel desde 1984 e já tive obra minha recusada por uma editora porque não era costume ver mulher neste meio. A alegação deles foi falta de verba, mas no mesmo mês foi solicitado a um poeta homem que ele escrevesse sobre o mesmo assunto que eu havia apresentado. Vinte quatro anos depois, esta mesma editora reconheceu meu valor e publicou três obras de minha autoria”, revela Benedita.

Outra ação que tem feito parte da campanha “#cordelsemmachismo” é a publicação em massa de fotos feitas pelas mulheres cordelistas de todo o Brasil nas redes sociais. As imagens compartilhadas, todas em preto e branco, mostram as escritoras segurando uma placa com a afirmação “Somos Muitas”, a descrição de seus nomes e Estado de atuação. A ativista Maria da Penha, apesar de não ser cordelista, também publicou uma foto neste mesmo formato, mostrando seu apoio à campanha. As cordelistas de São Paulo, integrantes do coletivo Teodoras do Cordel, também publicaram.

Segundo Lucineide Vieira, pesquisadora e fundadora do Clube @Ler_ Mulher e integrante do grupo Teodoras do Cordel, a mobilização das cordelistas são de extrema importância para que, a partir delas, seja feito um mapeamento da produção feminina do cordel no Brasil. “Esse mapeamento além de dar protagonismo ao trabalho destas escritoras, facilitará o acesso de leitores e leitoras, as obras literárias das mulheres do cordel, principalmente, em espaços de incentivo a leitura, como casas de cultura e escolas”, avalia Lucineide.

O Brasil é o 5º país no ranking mundial de violência contra mulheres. Quando a voz de uma delas denuncia o machismo, não o faz de maneira isolada. Já são mais de 1.800 assinaturas recolhidas na nota de repúdio contra o machismo no cordel. Ela está disponível no link: http://chng.it/mhZDGqq7tg. Uma série de lives sobre a temática do cordel feminino também integra a mobilização das mulheres na luta contra o machismo.

 

Redação