Atualmente cultura é definida como algo fútil, desnecessário e tida apenas para diversão. É mercadoria, por exemplo, as vendas de shows e espetáculos que pode-se considerar como cultura de massa. Já a cultura reconhecida como bons modos, ou maneiras de comportamento na sociedade são tidos como cultura de distinção, ou “alta cultura”.

Cultura vem do Latim (colo, colore), significa cultivar a terra. Ainda hoje observamos esse termo ligado à agricultura, floricultura, conceitos que remete ao lavrar, brotar, produzir algo. Ou seja, cultura está ligada à produção, consequentemente ao trabalho.

Mesmo antes do século XVIII à cultura designamos as idéias da memória, linguagem e identidade. Depois se associou como arte, literatura, ciência e filosofia. Portanto a idéia de cultura nesta forma é fruto da relação da produção e trabalho humano.

Esta idéia de cultura também se associou as distinções estabelecidas entre os indivíduos de uma sociedade. Ou seja, uma distinção social de classe. Divididas entre as pessoas que “tinham” cultura, as cultas, que tinham uma “boa educação” e boas etiquetas. Do outro lado, os trabalhadores que não tinham acesso a educação, considerados assim, os “sem cultura”. Gerando preconceitos e discriminações de classe, que vimos até hoje.

Por isso, esse conceito de cultura foi separado desta produção e trabalho humano. Demarcou ainda mais a divisão das classes sociais, tendo também a divisão do trabalho como determinante. Esse processo acentuado no capitalismo impôs um modo de vida regulador do cotidiano, principalmente dos trabalhadores. Assim, a classe trabalhadora desconhece como classe produtora e se aliena do processo de produção e ver seu parceiro de trabalho como concorrente. A cultura no capitalismo produz então, a competição, o individualismo e a divisão dentro da classe.

Observamos isso em todos os meios de comunicação que disseminam a arte, por exemplo, as novelas, teatro, filmes, reproduzem essa idéia de cultura. A cultura é tratada como mercadoria é vendida para alienar e “divertir” a população. Uma estratégia para amenizar a realidade sentida da exploração dos trabalhadores. Algo que não nos faz pensar e criticar os problemas vividos pelos explorados.

A cultura, assim como saúde, educação, virou só mais um produto para lucrar e ser consumido. Portanto a cultura é reduzida ao cinema, teatro, dança etc. Mas estes são apenas resultado final apresentado no mercado cultural. Cultura é modo de vida, são expressões advindas da produção humana. Tem caráter simbólico, subjetivo, artístico, filosóficos e científicos, trazem noções que norteiam as relações sociais e comportamentos, encontradas em nosso cotidiano. Está presente nas memórias, identidades, faz parte do passado, mas cria, transforma e reinventa o presente e o futuro.

 

Maria Clara Psoa

Maria Clara Psoa é natural de Natal-RN, mestra em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC e Doutoranda em Serviço Social pela PUC – SP pesquisando as culturas de resistência no Brasil, dentre elas o Cordel. Lançou seu primeiro cordel aos 15 anos de idade, intitulado: “O tolete de Itu”. Também é autora da obra “São tantas as Marias”, lançado recentemente. É rapper e milita no Quilombo Brasil Movimento Nacional de Hip Hop. Atualmente reside em São Paulo capital e faz parte do time de cordelistas do Coletivo Teodoras do Cordel – Artevista SP.