Ao outubro
O mês de outubro tem
Muitas comemorações,
A nossa Mãe Padroeira
Cura nossos corações,
E o dia das Crianças
Nos trás as recordações.
Também não nos esqueçamos
Mulheres deste Brasil,
Dos cuidados com a mama,
O risco está por um fio.
Auto exame é a solução
Para um cuidado sutil.
Estação da primavera
O tempo do florescer,
Cheio de perfume e cor
Que nos lembra, agradecer,
Vento, sol e chuva tem
Na medida do prazer.
Varre, ó vento de nós
toda essa nossa dor,
Brilhe sobre nós , ó sol
Cubra-nos com seu calor,
Purifica-nos, ó chuva
Com suas lágrimas de amor!
Entre o peso e a leveza do mundo
Entre o peso e a leveza do mundo, acordo minhas crias, ajudo elas a escolherem suas vestimentas, preparo o café da manhã. Entre o peso e a leveza do mundo, grávidas em situação de risco, estão com baixo peso, por não conseguirem comprar alimentos que tenham qualidade nutricional.
Entre o peso e a leveza do mundo, minha bebê mama em meu seio em praça pública, consigo deixar minhas outras meninas na escola com a roupa que elas escolheram. Entre o peso e a leveza do mundo, uma jovem iraniana é morta por não usar o hijab (véu islâmico), deixar seu cabelo a mostra e isso ter sido interpretado como um afronto a moral de seu País.
Entre o peso e a leveza do mundo, arrumo minha casa, lavo os pratos, as roupas, varro os cômodos, faço o almoço, lavo meu quintal, recolho os entulhos, elimino possíveis criadouros de mosquito. Entre o peso e a leveza do mundo, uma nova epidemia de dengue assola o Brasil pela falta de consciência coletiva.
Entre o peso e a leveza do mundo, ouço música, leio um livro, escrevo poemas e cordéis, trabalho em meu computador, pesquiso e leio em fontes honestas sobre o que acontece em meu país. Entre o peso e a leveza do mundo, inúmeros confrontos políticos carregados de fake news e angústias no coração daqueles que propagam falácias.
Entre o peso e a leveza do mundo, faço meus exercícios, busco as pequenas na escola, ajudo-as no banho, dou meus alertas quando elas se desentendem, preparo uma janta gostosa, troco fraldas, leio histórias infantis, oro com elas, canto e as coloco pra dormir. Entre o peso e a leveza do mundo, singelas esperanças.
Coletivo Teodoras celebra 13 anos de Bodega do Brasil
A convite dos promotores culturais do Sarau Bodega do Brasil, o Coletivo feminino Teodoras do Cordel esteve presente na celebração dos 13 anos do projeto que, desde 2009 leva para o Centro de São Paulo, muita arte periférica. Na oportunidade, as integrantes do coletivo apresentou no Saguão de Sociologia e Política no bairro da Vila Buarque em São Paulo, a performance poética da obra Mulheres Negras que Marcaram a História e impactou o público presente.
Confira as fotos do evento:
Feliz Dia do Nordestino
Teu toque
Passando a mão bem quente,
Deslizando até a tua boca.
Um toque fino no teu corpo
Vai me deixando bem louca.
Aquele cheiro que só tu tem
O beijo de língua que convém
Gemendo até ficar rouca.
E o tempo que nem passa
Quando estamos embalados.
Tua voz sussurra baixinho,
Os olhos ficam revirados!
Deixa o perfume na cama;
O desejo se esparrama
E os corações emaranhados.
Maria Clara Psoa
Não estamos sozinhas!
As mulheres brasileiras
Cansaram de padecer,
Pela causa se juntaram
De mãos dadas pra vencer,
Aqui e em todo lugar
Nossas vozes vão crescer.
Nós cantamos e dançamos
Como forma de oração,
Nesta marcha à liberdade
Buscamos inspiração,
Pelos cantos do Brasil
Numa só voz e canção.
A força que nos habita
Nos mantém vivas, munidas,
Tudo que já conquistamos
Transformou as nossas vidas,
Porém o fim está longe
De curar nossas feridas.
Que esse três versos sirvam de inspiração, pois somos muitas e não estamos sozinhas. Sempre há e haverá muitas mãos para segurar a nossa!
Setembro Amarelo: Cordel para Gi
Olá, queridos leitores e queridas leitoras.
Setembro começa e, mais que isso, setembro amarelo começa.
E foi embebida pela aura do setembro amarelo que me arrisquei a fazer meu primeiro folheto de cordel no ano retrasado, e resolvendo mais recentemente, neste atual setembro amarelo, lançar uma segunda edição dele.
“Cordel para Gi” surgiu-me enquanto uma homenagem a uma amiga muito querida que partiu tão precocemente, bem como deu-se como uma espécie de desabafo/desafogo, inerente ao meu processo de luto.
Gi partiu de forma brusca, vítima da depressão, que surge sempre muito silenciosa e quando chega ao ponto que chegou para ela, faz um estrago que não tem volta.
E é por isso que sou tão insistente em compartilhar o que sinto. Por autopreservação e para encorajar o leitor a fazer o mesmo. Porque o silêncio e a solidão são os piores aliados dessa doença tão cruel e arrebatadora. Então: diga, sinalize, peça ajuda e lembre-se que vc nunca está só.
Naquele dia eu fiquei o dia inteiro com uma história super engasgada em mim e então fui tentar sentar, me organizar, tentar me reconstruir, pra poder externar em palavras o turbilhão de sensações que me rondou naquele momento e que só depois do ofício do dia concluído é que pude por fim desabafar/desabar.
Eu soube naquele dia que a minha amiga Gi havia partido. E o meu chão se abriu.
Não teve despedida, não teve encontro pós pandemia pra colarmos lambe lambes (foi ela quem me ensinou a colar), não vai ter mais coco, não vai ter mais batucada, não vai ter mais gargalhadas, não vai ter mais nada, nunca mais.
Restou-me colocar em versos o que tanto doía no peito, na esperança de aliviar um pouco do desespero de nada mais poder fazer, bem como na tentativa de eternizar sua passagem rápida e iluminada por aqui.
Desta forma, compartilho com vocês o que saiu de toda esta tentativa de curar uma ferida que sei que nunca irá se fechar, mas que falar sobre ajuda a trocar os curativos, a limpar a bandagem e a fazer o peito respirar.
Cordel para Gi
Resolvi eternizar
Nesta minha abstração
Querendo homenagear
Com meu peito em suspensão
Pra tentar me perdoar
Seu legado eu vou honrar
E levar no coração
Giovana acordou
E queria se animar
Mas seu corpo desabou
Sem a alma no lugar
Foi pro poço e afundou
Pra tentar se libertar
Lá na porta alguém chegou
Pra tentar lhe estimular
Giovana nem ligou
Não queria despertar
A sineta então tocou
E assim não quis parar
Com o ouvido em zumbido
Giovana se moveu
Sem da dor ter se esquecido
Foi a porta, e a atendeu
Com um amargo desmedido
Que sua amiga percebeu
Num olhar, assim comprido
Carolina a compreendeu
Gi na vida sem sentido
Lina logo lhe acolheu
E na gola do vestido
Sua lágrima escorreu
Lina entrou, cuidou da amiga
Fez um chá, ligou o chuveiro
Pos mandalas numa viga
E na mesa um bom dinheiro
Pos no rádio uma cantiga
Com seu ritmo festeiro
E Giovana assim se abriga
Mas no peito, há um aguaceiro
Um cansaço, uma fadiga
Pensamento tão ligeiro
E na alma aquela urtiga
Que brotou no seu canteiro
Aos pouquinhos, se acalmou
E com olhos embaçados
Diz que Deus a abandonou
Corpo e alma estragados
E tão breve, lhe jurou
Que pagava seus pecados
Lina ouviu, lhe abraçou
Afagou-lhe os cabelos
Calmamente lhe explicou
Sem maiores atropelos
Que ali ela chegou
Pra vencer seus pesadelos
As mazelas desta vida
Nos atingem facilmente
Abrem em nós grande ferida
Nos machucam densamente
Deixam a alma encolhida
E o corpo em febre ardente
Gi esboçou-lhe um sorriso
Mas com baixa energia
Um olhar tão indeciso
Envolvido em afasia
Tanta dor de improviso
O peito em taquicardia
Lina, calma se fazia
Quis lembrar do tratamento
Do doutor que lhe atendia
E de seu medicamento
Porém Gi não compreendia
Tinha em si tanto tormento
A amiga ficou calma
Pra passar-lhe segurança
Pois doença que é da alma
Uma hora o corpo alcança
E estendeu-lhe sua palma
Pra lembrá-la da esperança
Giovana sempre linda
Efusiva e brilhante
Tinha um dom que não se finda
De ter alma de brincante
E menina, jovem ainda
Com seu corpo então bailante
A jogar com as sentenças
Mergulhada na poesia
Tinha em si diversas crenças
Tinha outrora alegria
E fazia as diferenças
Em tudo o que ela dizia
Lina pensa com amor
Em quando se encontraram
Em um dia de calor
E nos lambes que colaram
Do barulho do tambor
E no tanto que dançaram
Gi tocando sua alfaia
Lina em seu tamborim
Lembra a cor de sua saia
Um vermelho assim carmim
E pensaram em ir pra praia
Mas só foram ao botequim
Passa um filme na memória
Lina então segura a dor
E se faz contraditória
Faz-se forte, sem pavor
E se vê assim simplória
Ao tentar se recompor
Gi está mal, não é de agora
Lina dantes não sabia
Gi queria ir embora
Lina então a abraçaria
Tudo agora lhe apavora
Gi que outrora era poesia
Lina pensa em Giovana
Que em seu colo já dormia
Lembra do fim de semana
Quando Gi ainda sorria
E recorda de sua gana
Sem ter tal melancolia
Desde quando decidiu
Se mudar pra Ilha Bela
Nada mais a impediu
De içar seu barco à vela
Gi pra ilha então partiu
A buscar seu sentinela
E chegou tão renovada
Conheceu vários amigos
Se sentiu tão mais amada
Encontrou muitos abrigos
E com Lina na empreitada
Esquecia dos perigos
Lina passa a pensar
Quando tudo começara
Na amiga a definhar
E pensou em que falhara
Na tristeza a chegar
No temor que lhe assolara
E lembrou que em sua entrada
Avistou algo suspeito
Tanta coisa acumulada
Álcool e fósforo em seu leito
E ficou atordoada
A sentir um frio no peito
Já enquanto Gi dormia
Lina achou logo um bilhete
Com uma escrita sem poesia
Como um rasgo de estilete
Que o peito destruía
Bem debaixo do tapete
Lina teve uma tonteira
E então tomou ciência
Ao sentar-se na cadeira
Pos a mão na consciência
Sua visita foi certeira
Impedindo a diligência
Gi aos poucos acordava
Lina então lhe deu um abraço
Gi de nada se lembrava
Lina deu-lhe logo espaço
Sem cobrança, lhe acalmava
E chamou-lhe pro terraço
Gi aos poucos levantava
Pra tomar aquele ar
E a cabeça ainda girava
Mas queria ver o mar
Lina atenta lhe escorava
Ajudando a amiga a andar
Lina fica satisfeita
Ao olhar a amiga em pé
E o sol então a enfeita
Com a brisa da maré
Gi que era tão perfeita
Só sonhava em ter mais fé
E o mar foi contemplado
Com sua cor tão reluzente
Em um tom esverdeado
E sua onda tão valente
A quebrar só de um lado
Então Gi refresca a mente
Porém tudo diluiu
Como virando fumaça
Lina então logo sumiu
Revelando-se a desgraça
A esperança sucumbiu
Como vidro que estilhaça
Lina a tempo não chegou
Tudo fora uma ilusão
O seu peito se afogou
Giovana foi-se ao chão
Sua luz quase apagou
Oscilou, piscou, voltou
Gi partiu com a depressão.
Um abraço apertado e até a próxima.
Graziela Barduco.
A ARTE DO FAZER ARTÍSTICO
Olá, sou Dennah Sossai, e com muito carinho e alegria me reverencio como colunista neste projeto cheio de ternura. Sou uma Teodora e deste então, tenho me proposto a caminhar no Cordel e alavancar no fazer coletivo.
Vou relatar lembranças do meu bem viver. Sobre as experiências da construção do MAMULENGO. Em 2018, participei do curso de bonecos gigantes em Campinas, na qual o professor ofereceu todo o secreto mágico do aprendizado. Entrei no processo de ser construtora de bonecos, e a partir dali, nunca mais me separei desta arte. É algo intenso, que não tem explicação, tal jornada que me levou ao autoconhecimento do meu fazer com as mãos. Este conhecimento me deu a sensação de recomposição de alma, colaborou com o esquecimento de perdas e de derrotas que a vida insistia em impor em alguns momentos vivido.
Hoje percebo que, os primeiros rostos que esculpia no papel machê, me remetia aos monstrinhos do meu EU interior. Sinto que este aprendizado veio de encontro com as surpreendentes forças que até então, não tinha conhecimento, e a mesma FORÇA foi acolhendo as cicatrizes de raízes profundas, dando-lhe o poder de ser vista, analisada e amparada. Assim começa o ponta pé no meu processo de cura, daquelas supostas fraquezas, que me envolvia neste imaginário imposto pela sociedade de certos e errados, conseguindo cobrir-me em um manto de inverdades. Forçando-me a anular diante da compreensão do meu verdadeiro EU.
A memória que tenho do início desta jornada artística, é um tanto claro da falta de incentivo dos parentes próximos, e com certa fala de descrença. Era um começo de muita expectativa de acertos, queria estar apoiada ao reconhecimento alheio. Na época em alguns momentos tinha o aborrecimento. Mas, agora enxergo que estes momentos, não me abalava completamente, pois a satisfação pessoal era o preenchimento de tudo e qualquer devaneio alheio. Na verdade, serviu de inspiração para continuar sempre em frente na nascente desconhecida, percebendo que poderia ser um sinal, da tão almejada missão do bem viver, tal brincar de construir bonecos me proporcionou saúde física e emocional. Mostrando o poder do explorar, redescobrir e demonstrar ideias com pitadas de satisfação que elevava a minha autoestima e a qualidade de vida. Abandonei a limitação e a ansiedade, exercendo o poder da verbalização de sentimentos. Tendo a facilidade de expressar com a veracidade da Arte de contar e fazer estórias, percebi criativa e brincante.
Enfim! Trouxe o meu candeeiro para iluminar a vida…, mas este assunto ficará para o próximo mês…. Gratidão.
Iluminada
É uma daquelas pessoas positivas, que, mesmo sob pressão, é capaz de enxergar soluções valorosas nas mais inesperadas situações. Que persiste naquilo que acredita e que, na coletividade, se constrói enquanto ser humano, inspirando aqueles que com ela convive. É regida por uma força interior admirável. É protegida por anjos, invisíveis a alguns olhos, mas perceptíveis para os que no divino creem. Aquela, que quando o coração raramente fica triste, ergue a cabeça no dia seguinte e é grata a vida por ter mais uma oportunidade de superar os desafios. Que, ao invés de diminuir seus sonhos, prefere mesmo é aumentar suas habilidades, ainda que durante o percurso alguns desses sonhos sejam queimados e virem cinzas. Mesmo assim, ela continua seguindo em frente e acreditando na vida pela simples certeza de que, hoje e sempre, Deus será sempre fiel.