Há muito tempo que um assunto me visita e revisita com uma frequência tão avassaladora que às vezes sinto o chão estremecer, tamanha a força de seu movimento.
Eu reluto em falar sobre, porque construí, e alimentei para mim, o conceito de que tal condição não é necessária para a sobrevivência, e foi aí que eu me perdi.
Ao perceber que estava redondamente enganada, e que SIM, este valor é absolutamente fundamental, pelo menos para minha concepção do que seria a base de relações mais saudáveis, decido hoje falar sobre o nobilíssimo princípio da RECIPROCIDADE.
A realidade é que o ser humano dessa contemporaneidade doida, excentricamente desvairada, vem se tornando a cada dia mais e mais egoísta, egocêntrico, interesseiro, comodista e exacerbadaente individualista, de modo que atender ao outro ou cuidar e pensar no próximo, parecem situações por demais fora do comum.
Eu não sei por que diabos eu sinto um bem estar imenso em fazer as coisas pelos outros. E também nunca tive o costume de esperar nada em troca (a tal da reciprocidade), até porque acredito que eu seja um tanto orgulhosa, de modo que tenho dificuldades em admitir que preciso de algo de alguém.
Também nunca fiquei esperando o obrigado daqueles por quem algo fiz, embora sempre achei uma palavra linda de ser ouvida, ainda mais quando vinha realmente embuída de gratidão.
No entanto, confesso que jamais esperei, nem nos meus mais sombrios pesadelos, que as pessoas pelas quais eu tenha feito algo de bom, tivessem a indelicadeza e o desconchavo de me fazer o mal.
E foi o que passei a observar por inúmeras e inúmeras vezes nos últimos tempos.
Pessoas às quais eu ajudei e pelas quais eu me doei, me fazendo mal, sem a menor cerimônia.
Uma enxurrada de ingratidão, atrelada a mau caratismo; de dispautério, de mãos dadas à insolência; de egolatria, atada a empáfia… Enfim… Foram muitas as situações.
Bem, desta forma, tudo isso me levou a esta presente ponderação.
Talvez o erro tenha sido meu, em estar sempre disponível e a postos para ajudar o outro, a ponto deste outro pouco me valorizar.
Dito tudo isso, gostaria de registrar que uma dúvida tem estado a me repercutir loucamente, sem parar: se eu tivesse “exigido” a tal da reciprocidade nas minhas ações e relações, tudo não teria sido diferente e não teria eu sido mais respeitada?
Provavelmente não.
Para não me estender muito, fica ainda para mim um grande alerta, depois de toda esta reflexão: me doar por demais, nunca mais! Com uma grande e belíssima exceção à minha família muito próxima (pai, mãe, marido e filho), que o mesmo faz por mim (temos uma baita de uma reciprocidade aqui!). Talvez por isso levamos tão a sério a doação e o amor incondicional ao próximo, já que temos a rara e maravilhosa possibilidade de viver plenamente isso no dia a dia.

E vamos de poesia, para isso tudo reparar, bem como para exorcizar a dor que outrora cá fez morada:

Eu percebo, é muito claro
Por agora, olho ao redor
Meu esforço, sei decor
Tanto fiz, e não foi raro
Tanta gente que amparo
Me demonstra ingratidão
Meu cansaço é solução
Com respeito a mim não vem
Já que o jeito que me tem
Só me afoga em negação.

Um abraço bem apertado,
Graziela Barduco.

Graziela Barduco