Hoje venho compartilhar com vocês o que aconteceu com nosso grupo de cordelistas aqui da cidade de São Paulo, que resolveu se reunir na Avenida Paulista, no dia do aniversário da cidade, para comemorar os 470 anos desta metrópole que nos acolheu, cada um e cada uma vindo (a) de um canto diferente deste imenso Brasil.
Combinamos de nos encontrar de manhã e, como era uma manhã um tanto quanto chuvosa, o Sesc (que fica no cruzamento da Av. Paulista com a Rua Leôncio de Carvalho) nos autorizou a ficarmos em frente ao seu prédio, na calçada, porém abrigados sob sua marquise.
Assim que montamos nossas mesas, decoradas com toalhas de chita e terminamos de expor nossos livros de poesia e nossos cordéis, fomos abordados por alguns policiais, que diziam estar a mando da prefeitura, nos alertando de que não poderíamos ali ficar, porque, embora a marquise fosse do Sesc, a calçada pertencia à prefeitura, que não autorizava nossa permanência no local.
Tentamos dialogar e apontar o fato de que existia uma lei que respaldava o artista de rua sobre isso, ao que um dos policiais perguntou algumas vezes se sabíamos o número desta lei. Como não recordávamos do número da lei, ele seguiu como se ela não existisse e como se ele estivesse com a razão.
Eu passei a mão em meu celular e passei a procurar sobre a lei no Google.
Nesse meio tempo, meu companheiro, que é advogado, passou a dialogar com os policiais, tentando entender a situação.
Eles seguiram tentando nos impedir de estarmos ali no local com nossa arte e passaram a dizer que iriam apreender nossos livros e cordéis.
Neste contexto todo, já estavam no local 8 PMs e em seguida, 3 vans chegaram também para fazer a apreensão de nosso material artístico.
Liguei para uma amiga advogada e relatei rapidamente o ocorrido. Ela pediu para falar com a sargenta responsável pela ação policial para explicar sobre a situação, mas o consenso não se fez, assim como com o meu companheiro e os policiais.
Eu ainda continuei seguindo com a busca no Google, pela lei que iria nos respaldar e meu companheiro decidiu ir conversar com um dos responsáveis do Sesc, explicando o que estava acontecendo, pedindo por acolhida.
Eu finalmente encontrei sobre a Lei no Google, para poder mostrá-la aos policiais. Mesmo assim, eles não se mostraram dispostos a vê-la em seus pormenores, mas finalmente pareciam ter desistido da apreensão, já que as 3 vans, que ali aguardavam para levar nossos livros e cordeis, deixaram o local. No entanto não houve acordo com a sargenta sobre permanecermos no local, sendo que nós, poetas e artistas de rua, tínhamos (e temos) o total respaldo e direito de ali estar (inclusive vendendo nossas obras), de acordo com a Lei 15 776, sancionada por Fernando Haddad, conforme o link que disponibilizo abaixo:

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/comunicacao/noticias/?p=149181

De início, os policiais disseram que não poderíamos vender nossos livros e cordéis e que por isso eles seriam apreendidos, sendo que na lei diz exatamente o contrário.
Quando por fim conseguimos mostrar este trecho da lei a eles, questionaram a autoria de nossas obras.
Tirei meu documento, empilhei meus livros e pedi que a checagem do autor fosse feita com meu documento.
Na sequência, questionaram se o restante dos livros e cordéis das outras mesas pertenciam aos outros autores ali presentes.
Então eu gritei para meus amigos:

“Cordelistas, façam uma fila com seus livros e cordéis nas mãos e também com seus documentos para checagem com os policiais!”

A sargenta disse que “não precisava de tanto”.
Neste momento, o responsável do Sesc, vendo todo o ocorrido e o absurdo ao qual estávamos sendo submetidos, já que a Lei 15 776 estava sendo completamente ignorada pelas autoridades ali presentes, nos colocou para dentro, nos acolhendo em seu espaço.
E foi aí, quando não mais estávamos no “território da prefeitura”, já que estávamos para dentro do Sesc, é que os policiais repentinamente pediram “desculpas pelo mal entendido”, viraram as costas e evaporaram em segundos.
E assim a gente segue com nossa arte, existindo e resistindo, na certeza de que não vamos parar.

O cordel é resistência
Força intensa, sem igual
Arte pura, magistral
Vem da luta, a persistência
No meu peito, a minha essência
Toda armada de poesia
Me reforça todo dia
Pois com ela tudo enfrento
Sinto o viço aqui por dentro
Fortaleza que me guia.

Sigamos,
Graziela Barduco.

Graziela Barduco