Olá Amores e Amoras,

Na coluna de hoje partilho com vocês um pequeno desabafo, fruto da minha vivência no mundo do Cordel. Gênero literário que apesar de ser conhecido pelo povo brasileiro ainda é pouco estudado nas escolas e universidades. Devido a isso sofre muitas distorções desde sua origem, conceito e produção.

“O Cordel é poesia
Um bem imaterial
Joia rara do Brasil,
Tesouro nacional
Deve ser apreciado
Pois foi nomeado, como:
Patrimônio cultural !”
Lu Vieira

O Cordel apesar de ser uma poesia brasileira, ainda é desconhecida ou tratada como literatura menor pela grande maioria dos leitores e produtores da literatura neste país. Sua importância está em ser um patrimônio cultural brasileiro que narra com maestria a história do nosso povo. É poesia viva alimentada pela realidade de quem escreve em vários cantos deste país. Tem uma estrutura fixa: métrica, ritmo, rima e oração. Não se limita, ao contrário, possui um vasto repertório de temas, como: crítica social, estrutura econômica, política, religião, cultura, ecologia e questões de gêneros. Tem como missão retratar a sociedade, seus avanços e retrocessos, através da sua singela e rica poesia. Que sabiamente opta muitas vezes por usar uma linguagem, tema e personagens que tem fácil acesso com o leitor que se reconhece na brasilidade do cordel.
Porém, quem trabalha com Cordel é sem dúvida um resistente. Pois não é bem quisto pela academia, ignorado pelas editoras, diminuído pela crítica literária e acusado de ser folclore pelos ignorantes (O folclore é tema recorrente do Cordel e símbolo de riqueza cultural, porém Cordel é literatura). Além de ter que ouvir que Cordel tem sotaque, que é feito por analfabeto…. E muitas vezes ser tratado como caricato nas feiras literárias. Mas, isso vai mudar, à medida que mais pessoas leiam nossa produção (que mesmo independente segue todas as normas de uma publicação). Já é chegada a hora de pararem de olharem a produção cordeleana como se fosse algo menor, apenas por ser genuinamente brasileira. É hora de aceitar que nós também produzimos cultura.
É uma tarefa árdua a nossa de artistas que muitas vezes atuamos como professores da cultura brasileira, temos que ensinar que Cordel é literatura, que mulher escreve, que povos indígenas e negro produzem conhecimento.
A sociedade precisa compreender que cultura brasileira é feita também, por artistas do povo, resistentes e solitários, que vivem em todos os cantos do Brasil. Nós escritores do gênero literário Cordel recebemos pouco apoio do sistema e dos que detém o poder sobre a literatura brasileira.
Esses fatores nos impactam, mas não determinam a nossa garra e vontade de contribuir para a literatura. Seguimos estudando, formando grupos de salva guarda da Literatura de Cordel- patrimônio imaterial brasileiro, clubes de leitura, simpósios, feiras de livros, apresentações artísticas e lançando obras independentes, mas seguindo a regulamentação legal.
Somos muitos e muitas neste país versejando a cultura. E a cada dia conquistamos pequenos espaços em Editoras que acreditam no poder da poesia e investem para além de um determinado ‘padrão’ literário.
Neste país temos um caso crônico de desamor a cultura, sobretudo aquela feita pelo povo e para o povo. É uma eterna sensação de ‘viralatisse’, chaga aberta da nação brasileira. Aquela que só enxerga como cultura algo importado e de preferência que não faça nenhuma referência a realidade social.
Para encerrar este texto apresento-lhes sugestões de leituras para ampliar nosso debate e estimular o estudo da história do cordel seu passado e sua realidade atual.

Leiam:

Livro -Histórias de Cordéis e folhetos de Márcia Abreu- Editora Mercado das Letras

Textos: Cordel é resistência- Graziela Barduco / Policiais ameaçam de apreender cordéis- Varneci Nascimento

#leiamcordel

Um abraço afetuoso

Lu Vieira

Lu Vieira

Lu Vieira é cordelista, professora, mediadora de leitura e membro do coletivo feminino Teodoras do Cordel Artevistas SP.