Essa noite eu sonhei que uma criança me falava que eu estava “super gorda”.

Acordei mal com isso, afinal crianças não mentem, mesmo as de um sonho!

Devo estar mesmo, já que tive um filho e estou na faixa dos 40.

O fato é que essa não aceitação do corpo sempre me deixou muito mal.

Eu sempre tive o corpo curvilíneo e sei que nunca serei magérrima, e vira e mexe sofro horrores com uma série de pensamentos relacionados a isso.

É tão triste a gente custar a se aceitar e viver rejeitando aquilo que é nosso, a nossa essência.

Quando eu era mais jovem e trabalhava como modelo, ainda lidava com o agravante de não ser alta. Muitas das minhas colegas de trabalho me olhavam como se eu fosse uma aberração e não entendiam como eu podia estar em uma grande agência não sendo alta e magra.

Esses dias, passeando pela série “Verdades Secretas”, tudo isso começou a voltar à minha cabeça. Fiquei me perguntando como consegui conviver por tantos anos com pessoas tão diferentes de mim.

Sim, eu sei que o diferente agrega, nos ensina, nos amadurece. Mas o parecido é tão mais aconchegante, tão mais acolhedor. Talvez seja porque em minhas relações pessoais eu em geral venha vivenciando essa sensação de aconchego é que tenha conseguido suportar o oposto no âmbito profissional.

Enfim, o fato é que não é nem um pouco fácil a gente se aceitar, ainda mais no contexto sociocultural no qual fomos criadas e no qual estamos inseridas. E eu, passando dos 40 anos, tenho sim essa dificuldade gigante de me acolher, me aprovar, me validar, me assumir, me perdoar… É um imenso exercício diário.

E sigo na luta, dia a dia, inclusive quado acordo assombrada pelos meus sonhos, bem como sufocada pelos meus mais profundos e sombrios pensamentos.

 

E vamos de poesia, para espantar os maus “espíritos”:

 

Destas lógicas estranhas
Que me deixam aperreada
Cá soluço amargurada
Com dois rasgos nas entranhas
Quase vejo minhas banhas
Soluçando por perdão
Por fugirem do padrão
Enfiado goela abaixo
E não fique tão embaixo
Se não quer virar sabão.

 

Um abraço,

Graziela Barduco.

Graziela Barduco