Olá leitoras e leitores,

Dizem que nas redes sociais só mostramos as coisas lindas, maravilhosas e romantizadas, e concordo com isso, já que usamos tal ferramenta enquanto uma espécie de vitrine, logo expomos o que queremos imprimir de melhor aos olhos dos outros.
Desde que fui mãe, procuro viver intensamente essa nova função, até porque ela foi extremamente planejada e desejada, e veio na minha maturidade enquanto mulher, já que estou com 41 anos de idade e sou mãe de um bebê.
Consegui voltar a trabalhar muito rápido, sem ficar muitas horas longe do meu bebê por conta da minha maravilhosa rede de apoio, e por causa do meu tipo de trabalho: sou escritora, artista, vivo da arte.
Tenho a possibilidade de fazer home office, tenho a possibilidade de levar meu bebê pro meu escritorinho, tenho a possibilidade de levar meu bebê em minhas viagens e em meus eventos, porque meu marido também faz home office desde a pandemia e pode estar sempre comigo e com meu bebê.
Meus pais são super presentes na minha vida e sempre que preciso de auxílio também ficam com meu filho. No mais, a escola do meu filho é simplesmente perfeita! Ele entrou lá assim que começou a andar, eu super confio neles e ele ama as professoras, os amiguinhos e amiguinhas e toda a equipe que lá trabalha.
Dito tudo isso, parece que vivo em um mar de rosas, né? Mas não! Eu sofro de depressão severa e ansiedade aguda (com crises terríveis), que até agora estava tudo muito bem controlado com medicações corretas, terapia e sobretudo o exercício diário de respeitar meu tempo e minhas limitações.
Pois bem, nesses últimos dias cometi o erro de não me respeitar em alguns limites, um pouco com medo da desaprovação do outro, um pouco porque achei que daria conta. Um outro pouco porque tentei falar das minhas limitações pro outro que parecia entender e acolhê-la, mas que no segundo seguinte continuava com a demanda outrora exigida, como se não tivesse ficado claro o que eu havia falado, e eu ali com medo de decepcionar… Enfim…
E as consequências de eu não respeitar meus limites e limitações acabaram sendo terríveis.
Mas a gente disfarça e faz story, e um post aqui, um reel ali, um vídeo acolá pra tentar seguir em frente e deixar a vitrine sempre arrumada.
No mais a gente se depara com os eventos da vida real, os presenciais, daí toma remédio, passa maquiagem, lembra que é atriz, está com a rede de apoio e tudo vai se desenrolando perfeitamente, mesmo que a cabeça esteja bagunçada e o coração partido em mil pedaços.
E você começa a pensar nos conceitos tão em voga na contemporaneidade, tão em alta nas redes sociais tais como “reciprocidade”, “sororidade”, “solidariedade”, “empatia”, “suporte”, “apoio”, mas que na vida real você se dá conta de que as pessoas usam ZERO vezes com você, mesmo quando você já usou cinquenta com elas.
Então você olha pro relógio, o ponteiro congela e o número vira um baita de um letreiro escrito “IDIOTA”.
Na sequência, seus olhos se esbugalham, depois apertam miudinhos, até que escorre de um deles uma única lágrima gelada, porque você se lembra da sua rede de apoio e o número ZERO do outro parágrafo se dissipa, e você entende porque pode continuar fazendo aquelas cinquenta vezes.
Assim é a vida. A minha, pelo menos.
E sem mais, meu ponteiro do relógio continua correndo, sem pressa, respeitando perfeitamente meu tempo, meu limite e todas as minhas limitações.

E vamos de poesia:

Um abraço e até a próxima,

Graziela Barduco.

Graziela Barduco