Poemas Musicais, Músicas Poéticas, Livros Dançantes e Cordéis Para Bailar:

 

Dia desses me aconteceu um fato curiosíssimo.
Um homem que não conheço e com quem nunca falei me enviou uma solicitação de amizade no Facebook, e juntamente a isso me enviou uma mensagem, dizendo que havia gostado muito de três poemas meus. Na sequência, ele me envia três áudios, com três músicas gravadas utilizando meus poemas como letra e fazendo arranjos em cima delas.
Eu dei uma super bugada, principalmente porque uma das poesias que ele mencionou e que transformou em sua música, de sua cabeça e sem minha autorização, coincidentemente já era letra de uma canção que gravei há um tempinho e que inclusive lancei nas plataformas digitais, incluindo o Spotify e seus afins.
A outra dizia assim: “Na mulher que aqui escreve”, e daí isso passou a ser dito na voz de um homem, com seu arranjo por debaixo.
E a outra ainda dizia assim: “Eu me banho, atrevida / Pra provar de meus pecados”, com outro arranjo, que na real era um dedilhar de violão, novamente na voz de um homem.
Isso tudo me soou muito bizarro.
Eu respondi a ele, lhe parabenizando pelo seu trabalho e explicando que minhas poesias eram protegidas por direitos autorais (assim como qualquer obra autoral), e que inclusive uma dessas que ele pegou para musicar, já era uma canção minha gravada (inclusive mandei a música via Spotify para ele).
Bem, ele simplesmente cancelou a solicitação de amizade, me enviou a palavra “parabéns” e sumiu.
Agora, eu fico me perguntando o que dá o direito às pessoas a tomar uma poesia para si, fazer um arranjo para ela e gravá-la, sem nem ao menos conhecer o (a) autor (a) do texto em poesia em questão, sem inclusive pedir autorização para este (a) autor (a).
Olha, se ele tivesse me proposto a parceria, eu lhe indicaria um poema que ainda não virou canção e lhe daria permissão (embora tenha achado estranho ouvir na voz dele). Porém, acredito que boa parte dessa estranheza foi porque me senti extremamente invadida com tudo isso que aconteceu.
Até porque não tenho problema nenhum com parcerias, inclusive a minha primeira música que foi gravada, gravei em parceria com um amigo e inclusive foi esse amigo quem fez o arranjo.
Hoje eu tenho gostado muito de fazer os arranjos para as minhas próprias músicas, mas eu acho super bacana também quando a letra é minha e o arranjo de outra pessoa, desde que isso seja um combinado, uma parceria.
Enfim…
A gente, enquanto artista autoral, quer mesmo que nosso trabalho atinja o máximo de pessoas possível, é uma honra quando pessoas que não nos conhecem apreciam nossa arte e se sentem de alguma forma tocadas por ela. Mas tenho para mim que fazer o uso daquilo que está público, achando que, porque está público a obra pode ser tomada para si sem que o autor (a) o autorize, é uma baita de uma falta de respeito, atrelada a invasão, pra não dizer que se qualifica inclusive enquanto crime.

Mas para que nesta pauta, a arte não seja motivo de pesar, bora de poesia, para mais uma vez a alma se libertar:

 

Outrora ao olhar por aquela janela
Perdi minha estrela, pra longe partiu
Passou por aqui e então sucumbiu
Fugindo da crença que ontem foi dela
No fundo do peito vi meu sentinela
Que agora pulsou sem querer descansar
Mudou seu compasso querendo parar
Na dor da esperança que então dissipou
Com gotas nos olhos assim nos deixou
Cantando galope na beira do mar.*

 

Um grande abraço,
Graziela Barduco.

 

* Informações adicionais:

Em seu livro – Cartilha do Cantador – o professor e escritor Aleixo Leite descreve da seguinte maneira o Galope à beira mar: foi uma criação do cantador José Pretinho, do Crato-CE, sendo aprimorado por João Siqueira Amorim e José Virgulino de Sousa (Mergulhão) – 1908-1939). Cadência em compasso ternário, e por três vezes seguidas, com o último em binário abreviado, dando a ideia de parada rápida do galope do cavalo. É composto por dez pés em hendecassílabo, obedecendo à rima da décima: ABBAACCDDC, terminando pelo refrão na beira do mar, ou nos dez de galope da beira do mar, ou cantando galope na beira do mar”.

(Fonte: site Cordel na Educação –  https://www.cordelnaeducacao.com.br/dicas-de-cordel/galope-a-beira-mar).

 

Graziela Barduco