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27 nov

Alma a Escorregar

Depois de anos e anos de psicoterapia, análise, e autoanálise, duas questões-chaves passaram a permear meus pensamentos:

Por que temos o costume de carregar o eterno fardo da inadequação, da falta de encaixe, do sentir-se deslocado, se tal questionamento, em verdade, diz muito mais à respeito do meio no qual vivemos e não sobre nós mesmos, meio esse que tenta promover uma constante homogeneização, sem esforços para buscar enxergar as sutilezas, particularidades e peculiaridades de cada indivíduo?

E sobre a tristeza de sentir-se o tempo todo desagradando o outro, ou simplesmente não agrando esse outro: por que tal situação nos pesa demais, se isso, na realidade, diz muito mais sobre o outro em questão e não sobre nós mesmos?

Partindo de tais indagações, preciso, a priori, apontar o fato de que é sabido que somos seres falhos e permeados por incongruências, e isso é intrínseco ao ser humano.

No entanto, atribuir para si todo e qualquer fracasso detectado, anistiando o contexto histórico e cultural no qual estamos inseridos, bem como o “outro” das relações interpessoais, ou seja, aquele com os quais nos relacionamos, é base e estofo para qualquer teoria de autofragilidade, baixa autoestima e autoinadequação, dentre outras características as quais permeiam as moléstias psicológicas que nos rondam com afinco, na penosa contemporaneidade.

Dessa forma, através dessa micro reflexão, fica aqui o alerta-proposição: vençamos, com discernimento e prudência, tais barreiras provedoras da autossabotagem, que incessantemente nos coibem a fruição de uma vida plena e, sobretudo, sem amarras coibidoras.

E bora de poesia:

 

Alma que Escorrega

Cavando, a procura da tal razão
Nem senti a alma me escorregar
Não sei bem o que queria provar
E no poço fundo, fui de encontrão
Sabendo que estava na contramão
Ali, reergui na luz do horizonte
Mesmo sabendo que estava defronte
Daquilo que outrora fora loucura
Porém, ainda assim, eu tinha estrutura
Pra não querer mais pular dessa ponte.

 

Com carinho,
Graziela Barduco.

 

 

02 nov

TUDO JUNTO E MISTURADO

TUDO JUNTO E MISTURADO

O Dia dos Mortos parecia muito vivo. Ela lembrava das tradições das histórias dos causos, de tudo o que tinha escutado por sua parentada, pelas crianças da rua, pelos velhos na feira, pelos artistas nas praças, a partir de sua janela, por de trás da porta. Todas essas histórias remontam ao passado mas que de repente, em um passeio utópico, distópico, em uma ruptura com aquela realidade, aquele mundo sofredor, aquele mundo de tristeza, aquele mundo da invisibilidade, parecia ser a saída para mantê-la viva. Aqueles momentos de engolir o choro, sustentar as pancadas, suportar opressões, de sofrer por um cegueira íntima que reverberava no social, ao ponto de não se enxergar o que está claro à sua frente, e que naquele momento, desenhava um futuro.

Afastando-se de tudo isso e de uma realidade indesejada, seu momento é  tomado por luzes, matizes salvadoras e ondas de energia que seguem organizando-se e estruturando um cenário especial. Nesse, aqueles que vivem nas memórias dos vivos e nas lembranças saudosas, voltam a conversar, voltam para se redimir, ou até para tentar esclarecer, atitudes e comportamentos que, naqueles momentos passados, pareciam assertivos, mas cujo fim não justificou seus meios.

Os mortos começam a andar e perambular no salão fictício, animado por uma orquestra das mais variadas competências musicais nunca vistas. Personalidades tão significativas para o universo das artes , ciências e saberes variados preenchiam com suas criações e obras, o ambiente perfeito para dança dos desencarnados. Pela conotação da palavra, o encarnado remete ao vermelho, a cor primária da vida, matiz de tônus enérgico, preparatório, excitatório, do fugir ou enfrentar.

Em meio ao salão os tons harmonizam-se em paleta pastel. Mesas fartas dos melhores quitutes do mundo, figurinos, indumentárias e adereços privilegiavam um design de aparências surreal. Uma cena que revelava a mensagem expressiva daquelas personalidades que aqui na Terra, encantaram e ainda encantam o imaginário coletivo.

Mas ali, diante dos olhos Dela, todos desencantados e com feições pálidas não reprimiam sorrisos, abraços, flertes e sátiras. Exibiam uma alegria volumosa, comportamentos eufóricos, abruptos, um tanto até descoordenados, como se toda a primazia dos movimentos e pensamentos, fosse deixada de lado, em prol de uma fruição de atos exagerados e liberatórios. Como um resgate, uma retomada de memórias de expressões antes vividas, um tanto esquecidas e que precisavam transcender naquela realidade fantasmagórica em gestos hiperbólicos.

Os rostos que ali transitava passeava pelas mais diversas manifestações da capacidade intelectual humana, capacidade corporal do ser e da espiritualidade. Não era um baile comum. Personagens ali que em vida nunca em tempo-espaço poderiam estar convivendo, trocavam ideias como se fossem amigos íntimos, com diferentes experiências para compartilhar.

Revelam-se então novas saídas, conquistas e soluções para fórmulas e situações nunca antes sintetizadas. O encontro dos titãs potenciais desenvolvedores da experiência humana neste planeta, reuniam-se ali conversando sobre o que foram, o que fizeram e de como poderiam colocar de volta, as peças que foram perdidas e ajustar os parafusos dessa engenhoca que é a comunidade da vida. Ela escutava tudo e ia aprendendo a cada enfrentamento.

Quem eram essas pessoas? Ela percebe que não eram necessários nomes, não era necessário saber se na lista constava Fulana.  “Olha ali Beltrano”, “Ai como eu sempre quis dar um beijo em Sicrana”. Um som animalesco chega aos seus ouvidos e grita: “Chega!”. Ela entendeu que o mais relevante era perceber a necessidade viril dos presentes em buscar uma resposta para todos esses anseios que se concentram no egoísmo, na auto centralidade, na ruptura de interser e que seguem criando camadas e camadas de questões distanciadoras da própria verdade. Perpetuam-se trocas injustas, por vezes fundamentadas em valores e princípios morais universais, em que não percebem, ou pouco se importam com a clareza do todo e a coerência de entender-se como tudo também.

Aquelas pessoas mortas, gigantes em seus fazeres e talentos, que nesta Terra deixaram suas proezas e exemplos da importância da preservação da vida como a unidade global, naquele instante entristeciam. Seus rostos pálidos empalideciam mais ainda. O ritmo da orquestra mais potente que existiu em todos esses milhões de anos planetários, reduz seu andamento, entra em disritmia e para totalmente. Os dançarinos mais fantásticos que antes elevavam-se do chão, em piruetas, trocas de passos, coreografias magníficas, os revolucionários do corpo, pouco a pouco seguiam à inércia. Os tons pastéis perdiam gradativamente a sua saturação.

As obras clássicas visuais, maravilhas do mundo, as criações mais significativas no contexto das artes visuais, plásticas e arquitetônicas, que por hora alimentavam as conversas, provocavam sorrisos e sátiras aguçando os humores, aos uns poucos apagavam-se. Em uma velocidade cada vez mais dinâmica e intensa, as mesas, comidas, mobílias, paredes e os ambientes empalideciam em conjunto, e todas as pessoas vão se dissipando, até que tudo se apaga, reinando a inércia total e um silêncio absoluto.

Ela paralisa diante daquele nada, diante do branco intenso. Uma brancura quase total, que a deixa um tanto cega. Ela fecha os olhos e sente a potencialização de todos os outros sentidos. Começa a escutar um som vindo de um ponto, no encontro das paralelas do horizonte. Abre os olhos devagar, percebendo que na perspectiva central algo se mexia com tons escuros. Os movimentos eram bem leves, lentos, e seguia criando uma forma espiraladamente hipnotizante. Ela percebe que o som assemelha-se a uma canção de ninar que a embala suavemente. Ela começa aos poucos a desenvolver um movimento tranquilo com braços e passos, deslizando por aquele ambiente branco de chão macio, tentador ao ninar.  O som aproxima-se cada vez mais, e a forma vai se comportando como figura até que Ela compreende a informação, e entende quem é. Catarina!

Às duas dançam e cantarolam várias canções memoráveis, nostálgicas, melancólicas, tão necessárias de serem cantadas em bom tom. Pés casados, Catarina seguia guiando-a por todo espaço, quando em um dado momento para. Retira de sua bolsa um pincel e um pequeno pote de tinta amarelo que entrega à Ela, dizendo:

– Tudo o que estás vendo, ou que pensas estar vendo, é vida. Tudo o que não estás vendo e que não é perceptível com a consciência humana, sou eu. Queres estar aqui comigo ou voltar?

Catarina se retira cantarolando e dançando seguindo ao ponto infinito.  Ela deita-se no chão macio e olha para cima, olha o nada e a branquitude plena ao seu redor. Levanta-se, respira fundo e começa a pintar nuvens.

 

Imagem: Livre manipulação de Folklorico La Catarina by Alexander Henry

 

 

29 out

A Sociedade do Apagamento

Vivemos tempos líquidos (Bauman não me reprenderia por este artigo).
Fatos são apagados, com a desculpa do esquecimento, pessoas são esquecidas, com a desculpa do afastamento, sentimentos são afastados, com a desculpa do isolamento, informações são isoladas, com a desculpa do arquivamento e assim a sociedade morre burra, sem histórico, histórias, memórias, pensamentos, inspirações, reflexões, conhecimentos, referências, caráter, dignidade e, sobretudo, sem essência.
A prática do apagamento é comum em muitas instâncias, principalmente nas relações sociais.

De acordo com Castro, Lofego e Oliveira apud Manske (2020):

“A história está presente em todas as ações do cotidiano, do ‘agir’ ao ‘esquecer’. Contudo, apesar de tal sanção se revelar verídica e presente em diversos pensamentos e campos do quadro social, notoriamente, o passado é atacado, silenciado e posto em dúvida. Seja para compensar erros estruturais, para administrar um novo curso em uma determinada sociedade, tal ação se reverbera pelos registros do passado humano, todavia, uma justificativa frequente para essas ditas ‘mudanças’, se trata justamente do silenciamento de corpos ditos ‘perigosos’ para o quadro de uma certa comunidade.”

E segundo Castro, Lofego e Oliveira apud Calegari (2005):

“Assim, vozes são caladas para que um pequeno grupo continue a gritar. O apagamento de identidades e o silenciamento de discursos que desafiam estruturas de poder se perpetua dentro de uma lógica que fere não somente tais corpos, mas toda a condição humana.”

Dessa forma, apagar é exercer domínio sobre o outro, bem como é submetê-lo inclusive ao seu controle, arbítrio e poder. É silenciar aquilo que não deseja ser ouvido, para que a lógica vigente, ou a lógica daquele que se faz comandante siga, sem interrupções. Assim agem os cerceadores, opressores e ditadores, promovendo o apagamento para alimentar o curso de seu poder.

Por vezes, vejo o apagamento aos meus olhos, à minha frente, acontecendo em tempo real. Vejo pessoas serem apagadas para outras se perpetuarem sobre elas, pisoteando-as, mesmo sabendo que elas ali existiram e se fizeram úteis e necessárias. Vejo histórias sendo apagadas para que outras histórias sejam impostas sobre as que de fato aconteceram, para que uma nova realidade seja empurrada goela abaixo, substituindo e extinguindo aquela que dantes aconteceu.

Por sorte, temos o artefato da documentação, que eterniza fatos, histórias pessoas, feitos, situações e afins, para que estes possam ser devidamente honrados e creditados por aquilo a que respondem e correspondem, já que a memória é fraca, mas o trabalho certamente foi árduo e não há que ser apagado, tão pouco o indivíduo labutador esquecido ou silenciado.

E bora de poesia:

Vejo sempre o apagamento
Da memória construída
Diligência instruída
Por mandantes do momento
Tudo é podre, cem por cento
Mas a luta segue ativa
Isso só nos incentiva
E dá força à resistência
Que batalha a permanência
Pra manter sua narrativa.

Sigamos,
Graziela Barduco.

21 set

Sobre Sonhos: uma outra dimensão.

Lençóis, na Bahia, mudou minha vida!
Foi lá que conheci pessoas maravilhosas, que me acolheram de uma forma como poucas vezes tinha sido acolhida. Foi lá que conheci grandes mestres e mestras do Cordel, sempre tão generosos, inspiradores e gentis. Foi lá que tomei coragem e decidi por fim que queria SIM fazer meu doutorado, ao ouvir palestras de pessoas tão incríveis e apaixonadas por aquilo que fazem. Foi lá que escrevi meus folhetos de Cordel mais recentes! E foi lá que vivi intensos e lindos momentos felizes!
Para chegar na Chapada Diamantina, saindo de São Paulo peguei um voo até Belo.Horizonte , e de lá, peguei um outro voo num aviãozinho assim pequenino, que até parecia de brinquedo.
Era o chamado modelo ATR-72-50, tipo peculiar de aeronave, que até então eu desconhecia completamente.
Me lembro que mandei uma foto que tirei desse avião, na pista de pouso, para meu irmão, e ele comentou comigo que, na ocasião, havia voado nesse mesmo modelo, no dia anterior, na Itália.
Enfim, a viagem nesse avião foi ótima, como bem pode-se observar na fotografia, que é do final de abril desse ano, que acompanha este artigo,
No entanto, no final de julho, eu estava em Juquehy, quando acordei desesperada, porque havia tido um pesadelo tenebroso, com uma aeronave como essa, na qual havia voado meses atrás.
No sonho, eu não estava nela, estava em uma estrada pequena, dentro de um carro, com João ao volante, e estávamos sem Davi.
E então um avião, que sobrevoava a região que estávamos, começou a cair exatamente como caiu aquele avião envolvido no desastre da Voepass, no início de agosto, fazendo exatamente a mesma movimentação. A mesmíssima movimentação! E começou a cair num local como o que o avião desse triste episódio com Voepass caiu…
Eu estava dentro do carro, olhando em desespero a cena, ao lado do local onde ele caia. Esse carro estava em uma estrada que levava ao local que, assistindo ao noticiário no dia do desastre, pude, atônita perceber, que era exatamente como o local onde se encontra esse condomínio, no qual o avião da Voepass caiu.
Detalhe: eu nunca estive lá.
No sonho, eu estava realmente em pânico e gritava que os escombros iriam cair sobre o nosso carro, e quando tudo de fato começava a cair perto da gente, eu acordei simplesmente desnorteada.
Ao perceber que era um sonho, me acalmei e aos poucos fui ficando tranquila, pois, a vida inteira, tudo que sonhei, sempre aconteceu ao contrário.
Mas misteriosamente dessa vez foi diferente. Infelizmente….
Foi como se de fato eu estivesse lá e tivesse vivenciado tudo em sonho, antes da história catastrofica acontecer, algumas semanas antes de tudo se suceder.
Como pode?
Acho que nunca vou saber…
Enfim, escrevo porque hoje me lembrei do ocorrido, ao ler no jornal uma matéria sobre as caixas pretas do avião da Voepass que caiu, e escrevo também acho que pra tentar exorciza todo esse sentimento ruim que focou em mim.
No mais, escrevo também porque estou em um voo, voltando pra casa.
Mas não se preocupe, caro leitor e cara leitora, já estamos a pousar e por aqui está tudo bem.
Sempre sabe-se quando tudo está bem.

E vamos de poesia:

No reflexo da vidraça
Me despeço da carcaça
Quase que meio sem graça
Eu entrei no avião

Da janela do embarque
Vejo além daquele parque
Você quer que eu remarque
O meu rumo a solidão

Eu aqui com a minha calma
Vou lavando a minha alma
Levo a vida em minha palma
Desafogo o coração.

Até a próxima,
Graziela Barduco

01 ago

Somos o que Somos: nunca menos do que ninguém

Outro dia participei de um evento literário em São Paulo e era pra ser mais um evento como os outros eventos que vou em São Paulo, que, aliás, amo participar, porque é sempre maravilhoso conhecer novos escritores, novas pessoas, fazer essas trocas são sempre tão preciosas e, em geral, voltamos com o coração mais aquecido, e recheado de boas surpresas.
Eu confesso que só estou escrevendo sobre isso agora, porque só então consegui sentar em minha cadeira de balanço de meu refúgio, e é onde fico processando as coisas que me aconteceram. Enfim… Sim! Eu conheci pessoas maravilhosas e também tive trocas incríveis. Porém, a primeira pessoa que conheci, que acho que foi a primeira que chegou ao evento, pertencente ao grupo que ali faria o bate-papo que lá aconteceria, me olhou como se não me enxergasse. Me cumprimentou brevemente e baixou a cabeça, continuando a ler uns papéis que trazia consigo.
Talvez porque eu tenha sido apresentada a ela como “Graziela Barduco: a cordelista”, aliás, título do qual, eu MUITO me orgulho.
O fato é que eu tenho notado, por inúmeras vezes (não sempre, felizmente!), este mesmo olhar, quando nós cordelistas estamos em algum evento literário (e digo “nós” porque depois fui conversar com algumas e alguns cordelistas, que me relataram terem sentido por diversas vezes exatamente esta mesma sensação), vindo de outros escritores, representantes de outros gêneros da literatura.
Bem, o fato é que neste evento em questão, eu estava como representante da Literatura de Cordel (com muito orgulho), falei sobre esta, que é uma literatura extremamente rica, discorri sobre a importância do Cordel, dentre outros aspectos pertinentes a tudo que estávamos conversando.
A senhora que me olhou com desprezo não ficou para ouvir esta parte, já que o assunto dela havia sido antes do meu e, dessa forma, ela já havia ido embora nesse momento. Uma pena, porque ela ficou sem saber sobre a importância do Cordel.
Esqueci também de mencionar que, em dado momento, ela queria que eu me levantasse do lugar em que eu estava sentada na composição do sofá no evento, para a pessoa com quem ela desenvolveria a participação dela no bate-papo se sentasse. Eu estava acompanhada de uma amiga, também representante da Literatura de Cordel, que desenvolveria junto comigo a parte sobre Cordel no bate-papo, e neste instante a senhora em questão queria na realidade que nós duas saíssemos do sofá, para dar lugar a quem a acompanharia em sua apresentação. Até aí, tudo bem. Era só uma questão de logística, de composição de cena. Depois, retornaríamos ao local, em nosso momento de apresentação. Porém, o modo como ela se comunicou conosco foi extremamente desrespeitoso. E assim, vida que segue…
No mais, foi uma maravilha de evento! Mulheres fortes e potentes apresentando seus projetos, foi lindo!
A escritora que apresentou-se junto desta senhora era maravilhosa e escreveu um livro incrível.
Foi sublime o momento em que o livro dela foi discutido, sobretudo porque, neste momento, havia também uma outra moça, igualmente maravilhosa, produtora cultural incrível, contribuindo na mediação e apontando questões certeiras, e necessárias acerca da obra e do tema em questão.
Na sequência, mais pessoas foram abrilhantando o evento e tudo foi se desenrolando para uma festa pra lá de especial!
Quando tudo acabou, levei comigo, em minha alma, essas pessoas lindas que ali conheci. Nos “seguimos” nas redes sociais, para a gente não se perder de vista. Mas a senhora que me causou tal mal estar, preferi não “seguir”.
Bom, que ela continue em paz o seu caminho pela literatura.
E um pequeno adendo. Eu disse “nos seguimos”, porém aqui há uma observação a ser feita. A moça do livro incrível, e que inclusive é doutora em Literatura, não chegou a me “seguir” nas redes sociais *somente eu que a “segui”), mas me mandou uma mensagem muito especial, na qual dizia que gostaria de conhecer mais sobre meu trabalho e saber mais sobre meu processo com a literatura, dentre outros aspectos.
Adorei! Achei que íamos super trocar figurinhas. Fiquei muito animada, pois adoro construir novas amizades! Mas na realidade ela só queria me vender uma mentoria…
Fiquei triste… Depois de eu ingenuamente responder muito empolgada sobre minha paixão pela literatura, sobre como havia me tornado escritora, bem como na seqüência cordelista e também como estava conseguindo pagar minhas contas por meio da literatura, além de dar palestras, workshops e fazer apresentações e afins, sempre vinculando essas atividades à literatura ou a literatura de cordel, eu percebi que não era bem essa a resposta que ela esperava.
Como uma pessoa muito bem realizada e sucedida, ela gostaria apenas de oferecer algo como um “coach” de como ser uma escritora/empreendedora e de como ser bem sucedida no meio literário para esta simples cordelista que vos fala.
Me lembrei de meu grande amigo e cordelista Chico Feitosa, que além de filósofo e cordelista de primeira, é um gênio das vendas de Cordel, e é sempre quem mais fatura nas feiras e eventos que frequentamos.
Mas, voltando ao nosso assunto, fiquei mais uma vez decepcionada, por novamente ser, digamos que, um tanto “pré-julgada” por uma colega de profissão, que em sua breve análise sobre mim, concluiu que eu deveria ser alguém de pouco prestígio profissional.
Entrei em seu site e observei que seus cursos, métodos, mentorias e afins tinham um preço bem “salgado”, sem querer desmerecer o trabalho da colega.
Ainda navegando em seu site, encontrei também a seguinte frase no estilo slogan de seus serviços oferecidos: “Seja uma escritora empreendedora, que vive de literatura e fatura até R$ 10 mil por mês.”
Neste momento fez sentido a surpresa dela quando eu disse que justamente vivia de literatura. E neste momento também veio à minha cabeça a imagem da bolsa Yves Saint Laurent que ela tão lindamente usava no evento em que nos conhecemos.
Rapidamente, e orgulhosamente, esvaziei minha Victor Hugo, que por sinal comprei com o dinheiro de minha literatura, peguei minha Espedito Seleiro, que por sinal dá uma surra na Victor Hugo (porque está para nascer quem produza peças em couro de forma mais sublime do que este mestre maravilhoso da cultura brasileira), coloquei tudo dentro dela e saí com a alma leve, depois de declamar com afinco a seguinte décima, escrita no dia do fatídico evento, logo após ter sido “cumprimentada” pela senhora da qual vos falei anteriormente:

(DETALHE: resolvi escrever tais versos, já que cheguei cedo ao evento e estava lá sentadinha no sofá, sozinha, sem ninguém pra conversar, sem ser enxergada pela tal senhora à minha frente, de modo que achei mais produtivo escrever sobre o que estava sentindo naquele momento, do que simplesmente ficar nas redes sociais.)

Sentada no restrito
Onde nunca se mistura
Cordel com Literatura
Cada qual em seu distrito
Eu confesso, não me irrito
Aprendi viver às margens
Mas apronto as traquinagens
Escrevendo no meu bloco
Minha décima in loco
Registrando tais imagens.

Com amor,
Graziela Barduco.

02 jul

Mulher que Desrespeita Mulher: acontece na Literatura e está a venda

Hoje eu tive minha primeira experiência presencial como participante do grupo Escreva, Garota! e foi uma das piores coisas que já me aconteceu na vida!

Como este ano decidi publicar até agora quatro cordéis (mais dois com uma grande amiga), além de outros projetos que ainda estão surgindo, resolvi procurar um grupo que fosse frequente em eventos literários, e que de alguma forma fizesse uma ponte entre as autoras e esses eventos, com o intuito de levar este meu material para o maior número de feiras, Bienais, eventos literários e afins.

E foi então que encontrei o Escreva, Garota! no Instagram, que se apresenta como “um grupo de apoio, engajamento e capacitação continuada de mulheres que escrevem”.

Preenchi o formulário no site me candidatando para participar do grupo e entrei para ele há exatamente um mês.

Para entrar, você assina um plano, cujo valor é excelente pelos benefícios e contemplaria exatamente aquilo que eu estava precisando.

Assim que entrei, consegui marcar com a organizadora as minhas datas e horários nos eventos que queria e estava tudo perfeito.

Pois bem, dois dias depois, no dia 05 de junho, a organizadora do grupo mandou a seguinte mensagem no grupo do WhatsApp:

“Bom dia.
Lembrando que faremos reservas da BIENAL DO LIVRO DO RIO na próxima segunda, dia 10, às 11h.
Interessadas QUE TENHAM PLANO ANUAL OU SEMESTRAL VÁLIDO NA DATA DO EVENTO, deverão entrar no grupo abaixo para organizarmos a ordem de chamada.”

Bem, como eu assinei o plano semestral, achei que pudesse entrar no grupo para entender quando seria a Bienal do Rio e se eu poderia participar nas datas.

Na sequência, a organizadora me mandou um áudio dizendo que eu não tinha plano válido na data do evento. E sem me dizer a data do evento, ou sem perguntar se eu gostaria de estender meu plano para contemplar a data do evento, ela seguiu me passando um “sermão”. Até que eu perguntei a data e ela me informou que seria em junho de 2025. Era um diálogo que poderia ser proveitoso para nós duas e sem estresse algum. Mas não foi o que aconteceu. No mínimo estranho. Enfim….

Eu ainda disse assim para ela, meio que tentando dizer o que de estranho eu estava achando:

“Uma sugestão: nos informativos dos eventos, poderia colocar as datas dos mesmos. Grata.”

E ela me respondeu:

“É que a galera já acompanha as datas das bienais e já soltamos há mais de um mês, praticamente toda semana, as datas confirmadas.

Bem, eu preciso dizer que havia entrado no grupo há apenas dois dias e, bom, eu acho que não sou “a galera”, mas, enfim…

Depois disso, comecei a observar, como que em um padrão, o mesmo tom grosseiro e sem paciência com o qual ela me respondera sobre esse episódio da Bienal do Rio se repetindo por inúmeras vezes nos grupos de WhatsApp quando alguém tinha alguma dúvida sobre algo.

E ficava um clima super chato, de intimidação, porque é natural surgirem dúvidas quando vamos fazer um evento, e a cada dúvida era sempre uma patada, de modo que eu nem ousava perguntar nada.

Algo interessante estipulado no grupo foi a ata de reunião acerca das regras e diretrizes do primeiro evento presencial do qual eu participaria enquanto parte do grupo, que seria A Feira do Livro, aqui em São Paulo, no Pacaembu, e, vendo que estava tudo descrito ali de forma ordenada, fiquei mais tranquila, sabendo que não precisaria dirigir minha palavra a ela para sanar alguma possível dúvida.

Bem, o dia do evento foi chegando, as meninas foram tendo suas dúvidas, levando suas patadas ao tirá-las e engolindo seus sapos sabe-se lá, Deus, por qual motivo. Porque uma coisa precisa ser bem esclarecida: esta pessoa que organiza o grupo e o grupo em si não está fazendo um favor a ninguém. É um serviço contratado, pois pagamos uma assinatura para podermos nos utilizar destes serviços, então toda e qualquer dúvida que a cliente venha a ter, deve ser sanada, por obrigação.

Então, hoje, arrumei minha malinha para ir para o evento. Cheguei com muitíssimo receio desta organizadora estar lá, mas por sorte só estava uma outra moça que trabalha com ela e que é uma fofa. E também outras mulheres inspiradoras e lindas, que fazem parte do grupo, que foi uma sorte conhecer. Montei minha mesinha no meu horário de lançamento com meus cordéis e livros, e levei uma chita na cor vermelha para combinar com a estética do estande. Estava tudo uma delícia! O papo, as meninas, as pessoas que fui conhecendo, meus amigos queridos que foram prestigiar meu lançamento, o sol, o céu azul….

Decidimos tirar uma foto ao redor da minha mesa, com nossos livros e toda a decoração do estande. Ficou linda! Enviei no grupo para todas terem acesso, as meninas postaram, estávamos felizes.

Seis minutos depois a organizadora mandou a seguinte mensagem:

“Gente, toalhas não são permitidas…”

Sem que isto estivesse mencionado na ata, sem mais, nem menos.

Na ata dizia assim:

“Favor cuidar da estética do estande. Não deixe visível qualquer mala, mochila ou caixa.”

Eu que já estou acostumada a fazer feira, escondo minha mala embaixo da toalha e tudo fica sempre lindo!

Enfim… Não bastasse a mensagem, ela mandou a moça que estava ali organizando o estande vir até mim e dizer que eu ia precisar tirar a chita da minha mesa.

Eu achei que a falta de respeito tivesse extrapolado todas as fronteiras e entendi perfeitamente que era hora de me retirar.

Interrompi as vendas, o papo, o atendimento aos meus amigos.

Não sei se foi preconceito com a Literatura de Cordel, com a chita, com todos os signos regionalistas que estavam dispostos ali sobre a mesa. Xenofobia? Não sei…

Eu chorava e fechava a mala. Antes mesmo de o meu horário (pelo qual eu havia pago!) acabar.

Meus convidados me abraçaram. Minhas companheiras de bancada também.

Já a organizadora deste que se vende como um “grupo de apoio a mulheres que escrevem” e que se autointitula como “cientista social e especialista em Psicologia Positiva, Bem-Estar e Autorrealização” só não destroçou por hora uma alma, porque esta que vos fala é muito bem amparada e aprendeu a nunca, nunca mesmo ficar calada!

E bora de poesia, pra esvaziar o coração:

A soberba que te impede
De tentar se desculpar
É amiga do pesar
Que teu peito te concede
Tua ação que te sucede
Ao soltar tua fala errada
É escolher ficar calada
Escondendo os teus enganos
Mas não tenho nos meus planos
Ser por ti depreciada.

Em paz,
Graziela Barduco.

 

Acesse aqui o arquivo da ata mencionada no artigo, para conferir as regras e diretrizes as quais eu precisaria cumprir:

https://docs.google.com/document/d/1spEPRug5cn9oKEj5fI_SLMYhODFWyrEb/edit?usp=drivesdk&ouid=101642967091710697736&rtpof=true&sd=true

 

01 jun

Trajetórias que se Entrelaçam

Junho chega todo faceiro e hoje recebi o convite de defesa de mestrado de minha amiga querida Izabel Nascimento, deixando meu peito repleto de amor, orgulho e gratidão!
Ele veio todo em versos, porque Izabel é cordelista de mão cheia, e seu tema de pesquisa é sobre Literatura de Cordel.
No flyer que acompanha o texto, assim que abri, vi o logo do Célia Helena e do nosso Teodoras do Cordel e também o nome de Samir Yasbek como seu orientador, e uma história toda se passou na minha cabeça.
Eu tive a sensação de que esse convite de Izabel era um convite do universo dizendo que tudo ia sempre ficar bem.
E depois me lembrei que ontem eu li um poema que amei, da Liana Ferraz, que foi minha orientadora no meu mestrado lá no Célia, que dizia que “A vida mais do que convida, a vida convoca”, e então tive a certeza de que escrever sentada aqui nessa cadeira de balanço é o que eu quero fazer pro resto da minha vida.
E explico essa colcha de retalhos que é a minha história, sempre apinhada de gente maravilhosa e especial que fui encontrando pelo meu caminhar.
Eu sou atriz e toda a minha formação foi sempre em teatro, música, dança e afins, embora a escrita poética tenha me acompanhado desde criança.
Porém, eu digo que foi no meu processo de pesquisa de mestrado que de verdade me descobri escritora.
Durante esse período, eu estive em um momento muito intenso e fértil, porém um tanto estressante, no qual passei a escrever quase que desenfreadamente, como forma de alívio perante à ansiedade do momento em questão.
Como acabei ficando com uma produção muito extensa (e intensa) ao final deste decurso, decidi publicar meu primeiro livro de poesia, o “Na Rima da Menina”.
E, daí por diante, não parei mais. Digo tb que foi nesse período que atendi ao chamado do Cordel, em meio a um turbilhão de lindos aprendizados, que minha pesquisa de mestrado me possibilitou.
Foi magnífico poder dar de encontro com este gênero da literatura brasileira tão maravilhoso que é a Literatura de Cordel, pelo qual me apaixonei profundamente, passei a estudar e, mais para frente, a produzir.
E foi aqui que entra a maravilhosa Izabel, que agora defende brilhantemente seu mestrado, e também outra cordelista sublime, que é a Julie Oliveira, que hoje também é mestranda no Célia.
Na ocasião do lançamento de meu segundo livro de poesias, Julie o adquiriu e começou a me apresentar o mundo das mulheres cordelistas, incluindo aqui a história de Izabel, que inclusive inspirou a criação de nosso coletivo Teodoras do Cordel, com o qual estaremos presentes na defesa de mestrado de Izabel, para brindar o momento com muita arte e poesia lá na São Gabriel, 444, no Célia Helena de meu coração, onde já vivi tantos momentos especiais quando lá estudei (e também o tempinho em que lá trabalhei na Casa do Teatro).
E sobre Samir? Esta é a parte mais interessante da história! Ele foi meu professor e do J.P. Rezek nos anos 2000, na faculdade de cinema da FAAP, na disciplina Análise da Imagem. E foi ali que o João e eu começamos a namorar…
E, bem… Daí, em 2021, nasceu o Davi! Rs!
E a gente segue cada dia mais e mais mergulhados na mais pura poesia.

Trajetória

Outrora tive dúvidas tão selvagens
Sentia o corpo jogado às margens
E a alma um tanto despercebida
Dor mais cruel de minha vida

Cavei um buraco um tanto fundo
Inverti e devastei todo meu mundo
Rabisquei meu diário favorito
Soterrei o que tinha de mais bonito

Eu tinha um sorriso curto
Eu falava tão mais livremente
E a amargura me provocava surto
E o corpo comunicava descrente

Então me vejo tão tímida agora
Eu não era assim, eu fui embora
Ao fugir da arrogância de certo olhar
Meu livre discurso estava a minguar

E me deparo com uma leveza que cura
Com a maravilha de uma alma pura
Mergulho profundo no céu encantado
Saltei do buraco que havia cavado

Meu discurso hoje é movimento
Meu saber está neste mais puro olhar
Trabalho a escuta do pensamento
Compartilho a essência do que é amar

Curtas palavras, longos sorrisos
É desta forma que quero propagar
A delicadeza sem tantos avisos
O ser de verdade e a verdade no estar.

Um abraço com carinho,
Graziela Barduco.

 

 

 

 

 

07 maio

Convivência

Depois dos 40 (contando com 15 anos tratando de depressão, mais 5 de síndrome do pânico e ansiedade), eu confesso que estou com uma baita dificuldade de me relacionar com as pessoas (algumas).
Acredito que antes (tipo até “ontem”), isso era bem mais fácil pro outro (e absurdamente mais difícil pra mim), porque eu tinha medo de desagradar esse outro, logo tinha medo de dizer “não” e tolerava extremamente as atitudes alheias, passando por cima do meu bem-estar, e ignorando completamente os meus limites. Desta forma, o outro ficava super bem, isso nas mais diversas situações cotidianas, e, em geral, saindo no benefício, enquanto eu sofria horrores e adoecia cada vez mais.
Hoje, eu aprendi a respeitar os meus limites e a pensar no meu autocuidado, sem colocar as imposições do outro acima do meu conforto, bem como consegui atingir o equilíbrio entre minha saúde (tanto física, quanto mental) e o cuidado e a preocupação para com o outro, de modo que minha salubridade mental fique ok na maior parte do tempo.
No entanto, o outro não tem ficado mais brilhantemente feliz ao meu lado como antes, simplesmente porque agora eu não estou mais prontamente disponível para ele, ou super passando por cima dos meus limites para que esse outro esteja plenamente satisfeito em detrimento de minha sanidade mental.
E desta nova forma bem complexa com a qual venho lidando com os embates e contratempos do dia a dia, falando estritamente com relação à interação com o outro, a conta não tem mais fechado de forma tão sensacional assim (creio eu que mais para o outro), mesmo que o mais próximo daquilo que seria o ideal de equilíbrio esteja se fazendo presente aqui dentro de mim.

Enfim…. E bora de poesia, que tudo cura!

Eu passei a me afogar
Ao cair num mar de rosas
Pois sou dessas orgulhosas
Que uma mão custa aceitar
E já que eu não sei nadar
Nesse mar eu me perdi
E te juro que esqueci
Que boiar era opção
Me soltando, em suspensão
Pra sobreviver ali.

Um abraço,
Graziela Barduco.

01 abr

Multiartistas Autorais, com Direitos a Preservar

Poemas Musicais, Músicas Poéticas, Livros Dançantes e Cordéis Para Bailar:

 

Dia desses me aconteceu um fato curiosíssimo.
Um homem que não conheço e com quem nunca falei me enviou uma solicitação de amizade no Facebook, e juntamente a isso me enviou uma mensagem, dizendo que havia gostado muito de três poemas meus. Na sequência, ele me envia três áudios, com três músicas gravadas utilizando meus poemas como letra e fazendo arranjos em cima delas.
Eu dei uma super bugada, principalmente porque uma das poesias que ele mencionou e que transformou em sua música, de sua cabeça e sem minha autorização, coincidentemente já era letra de uma canção que gravei há um tempinho e que inclusive lancei nas plataformas digitais, incluindo o Spotify e seus afins.
A outra dizia assim: “Na mulher que aqui escreve”, e daí isso passou a ser dito na voz de um homem, com seu arranjo por debaixo.
E a outra ainda dizia assim: “Eu me banho, atrevida / Pra provar de meus pecados”, com outro arranjo, que na real era um dedilhar de violão, novamente na voz de um homem.
Isso tudo me soou muito bizarro.
Eu respondi a ele, lhe parabenizando pelo seu trabalho e explicando que minhas poesias eram protegidas por direitos autorais (assim como qualquer obra autoral), e que inclusive uma dessas que ele pegou para musicar, já era uma canção minha gravada (inclusive mandei a música via Spotify para ele).
Bem, ele simplesmente cancelou a solicitação de amizade, me enviou a palavra “parabéns” e sumiu.
Agora, eu fico me perguntando o que dá o direito às pessoas a tomar uma poesia para si, fazer um arranjo para ela e gravá-la, sem nem ao menos conhecer o (a) autor (a) do texto em poesia em questão, sem inclusive pedir autorização para este (a) autor (a).
Olha, se ele tivesse me proposto a parceria, eu lhe indicaria um poema que ainda não virou canção e lhe daria permissão (embora tenha achado estranho ouvir na voz dele). Porém, acredito que boa parte dessa estranheza foi porque me senti extremamente invadida com tudo isso que aconteceu.
Até porque não tenho problema nenhum com parcerias, inclusive a minha primeira música que foi gravada, gravei em parceria com um amigo e inclusive foi esse amigo quem fez o arranjo.
Hoje eu tenho gostado muito de fazer os arranjos para as minhas próprias músicas, mas eu acho super bacana também quando a letra é minha e o arranjo de outra pessoa, desde que isso seja um combinado, uma parceria.
Enfim…
A gente, enquanto artista autoral, quer mesmo que nosso trabalho atinja o máximo de pessoas possível, é uma honra quando pessoas que não nos conhecem apreciam nossa arte e se sentem de alguma forma tocadas por ela. Mas tenho para mim que fazer o uso daquilo que está público, achando que, porque está público a obra pode ser tomada para si sem que o autor (a) o autorize, é uma baita de uma falta de respeito, atrelada a invasão, pra não dizer que se qualifica inclusive enquanto crime.

Mas para que nesta pauta, a arte não seja motivo de pesar, bora de poesia, para mais uma vez a alma se libertar:

 

Outrora ao olhar por aquela janela
Perdi minha estrela, pra longe partiu
Passou por aqui e então sucumbiu
Fugindo da crença que ontem foi dela
No fundo do peito vi meu sentinela
Que agora pulsou sem querer descansar
Mudou seu compasso querendo parar
Na dor da esperança que então dissipou
Com gotas nos olhos assim nos deixou
Cantando galope na beira do mar.*

 

Um grande abraço,
Graziela Barduco.

 

* Informações adicionais:

Em seu livro – Cartilha do Cantador – o professor e escritor Aleixo Leite descreve da seguinte maneira o Galope à beira mar: foi uma criação do cantador José Pretinho, do Crato-CE, sendo aprimorado por João Siqueira Amorim e José Virgulino de Sousa (Mergulhão) – 1908-1939). Cadência em compasso ternário, e por três vezes seguidas, com o último em binário abreviado, dando a ideia de parada rápida do galope do cavalo. É composto por dez pés em hendecassílabo, obedecendo à rima da décima: ABBAACCDDC, terminando pelo refrão na beira do mar, ou nos dez de galope da beira do mar, ou cantando galope na beira do mar”.

(Fonte: site Cordel na Educação –  https://www.cordelnaeducacao.com.br/dicas-de-cordel/galope-a-beira-mar).

 

25 mar

Teodoras integra exposição de arte feminina em museu no litoral norte de São Paulo

Em busca de ampliar as ações de difusão e promoção da literatura de cordel feminina, o coletivo estadual Teodoras do Cordel dá um importante passo em sua trajetória: integrar circuitos de exposições de artes em museus do Estado.

A primeira exposição do grupo, acontece no Museu de Arte e Cultura de Caraguatatuba (MACC), na mostra “Mulheres Artistas? Mulheres Artistas!”, promovida pela Fundação Cultural e Educacional de Caraguatatuba (Fundacc) e que segue em cartaz até o dia 13 de abril. A ação, apresenta obras de mulheres de diversas frentes sociais e culturais, que têm em comum a arte como guia-mestra.

Na exposição, o coletivo Teodoras apresenta sua história e seu percurso de empoderamento na escrita feminina de cordel no Estado de São Paulo, com destaque para as obras literárias: “Justiça Violada” (editora cordelaria Castro), “Mulheres Negras que marcaram a história” (editora areia dourada), “Mulheres Indígenas que marcaram a história” (editora areia dourada) e “Pagu: Mulher Revolução” (editora cordelaria Castro).
Os cordéis autorais escritos pelas representantes do coletivo, também integram a exposição, junto a objetos que ajudam a fortalecer a simbologia imagética das obras apresentadas pelas mulheres cordelistas.

“É uma grande alegria para nós, mulheres cordelistas de São Paulo estarmos em um museu. Este grande marco para a história do coletivo encoraja nosso trabalho e fortalece nossa busca pelo enaltecimento do feminino, suas lutas e triunfos”, destaca Lu Veira, uma das membras-fundadoras do Teodoras do Cordel.

Na abertura da exposição, realizada no dia 8 de março, dia da mulher, a obra “Pagu: Mulher revolução” ganhou destaque em um lançamento que contou com a participação das mulheres que integram o núcleo do coletivo que se forma no litoral norte. Já a obra, “Mulheres Negras que Marcaram História”, recebeu do coletivo de mulheres caiçaras, Linhas do Mar, bordados das mulheres homenageadas no livro. Na oportunidade, elas ainda declamaram trechos da obra, mostrando os bordados que também integram a exposição.

Já no dia 30 de março, o evento “Sarau no Museu”, marcará a integração do núcleo Teodoras Capital com o núcleo litoral norte e também, um novo encontro do grupo, com o coletivo Linhas do Mar. O evento também tem como objetivo, levar ao público a oportunidade de participar de uma visita guiada na exposição “Mulheres Artistas”, dos quais, ambos os coletivos fazem parte, e ainda, prestigiarem no Sarau, poesias, cordéis e bordados com temáticas feministas sobre recomeços.

Além do coletivo Teodoras apresentando suas obras literárias feministas, também estão em cartaz no MACC, as artistas: Ana Pinheiro com telas em estilo naïf que destaca a subjetividade feminina; o coletivo Linhas do Mar que expressa através dos bordados, a importância da luta pelos direitos coletivos; Alice Dolfini, mulher trans que transforma em arte objetos de descarte; Sara Belz e suas telas cheias de cores e encantamento e Vera Lavor, autora de esculturas em argila e cerâmica.

A exposição também relembra a geometria cubista da saudosa Edna Lins (in memorian) e a diversidade das cores da natureza e a luminosidade do sentimento de ser caiçara de Sandra Mendes (in memorian).

O MACC está localizado na Praça Dr. Cândido Motta, 72, no centro de Caraguatatuba. A visitação é de terça a sábado, das 10h às 18h.

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