Visite nossas redes sociais

31 jan

Um olhar animista para a infância que há em nós

Perceber a sutileza das crianças em suas inumeráveis formas de brincar é como deitar em um chão fofinho de areia e tentar contar as estrelas do céu numa noite sem nuvens. O brincar livre, algo tão natural para as crianças, infelizmente ao longo dos tempos tem sido um direito cada vez mais negado. Para alguns adultos, resta jogar a culpa às telas do “mundo moderno”. Mas, será mesmo, este o principal responsável? Já parou para pensar em qual momento do dia você se dedica a sua criança interior? Que ela está aí, pertinho de você, no centro do centro do seu coração e você simplesmente pode estar negando a existência dela? Como podemos pensar nas crianças que nos cercam, se nem ao menos temos consciência que a nossa criança interna implora por uma brincadeira livre? É fato, precisamos reaprender como se faz isso.

Como uma boa professora, mas acima de tudo, uma brincante na vida, Lu Vieira traz em seu cordel sextilhado, na obra “A Criança e o Brincar”, caminhos poéticos para atingirmos a singela meta que toda criança tem: brincar.

A autora apresenta com muita ludicidade, o passaporte para a liberdade que também rima com felicidade. Como ser leve e tornar o sofrimento breve. Como não protelar questões desnecessárias, ainda que haja rusgas no caminho a serem combatidas, mas também, como é possível rapidamente fazer as pazes, viver em comunhão. A não definir talento por gênero ou cor preferida. Como colocar vida nas situações, reconhecer o pensamento mágico e animista da criança e a interagir com ele. A infância está dentro de nós, ainda que na própria infância esse direito tenha sido negado, mas, as ressignificações são sempre possíveis porque a todo momento, a vida acontece. Para a criança, tudo tem alma. E tem mesmo! Basta emprestarmos ela para o que quer que seja.

O livro, “A Criança e o Brincar” nos leva para essa verdade. Para este encontro humano com tudo que temos direito, inclusive, com permissão para jorrarmos, o quanto quisermos, nossas “águas de choro”, esse termo tão fofo e poético criado e falado pela minha filhinha de três anos, Ester Luz, para descrever o que no cotidiano chamamos de lágrimas. Um viva a poesia das crianças, a infância e o brincar!

Visite o perfil da autora em @ler_mulher e conheça esta e outras obras de Lu Vieira.

28 jan

Versejar e Resistir

Olá Amores e Amoras,

Na coluna de hoje partilho com vocês um pequeno desabafo, fruto da minha vivência no mundo do Cordel. Gênero literário que apesar de ser conhecido pelo povo brasileiro ainda é pouco estudado nas escolas e universidades. Devido a isso sofre muitas distorções desde sua origem, conceito e produção.

“O Cordel é poesia
Um bem imaterial
Joia rara do Brasil,
Tesouro nacional
Deve ser apreciado
Pois foi nomeado, como:
Patrimônio cultural !”
Lu Vieira

O Cordel apesar de ser uma poesia brasileira, ainda é desconhecida ou tratada como literatura menor pela grande maioria dos leitores e produtores da literatura neste país. Sua importância está em ser um patrimônio cultural brasileiro que narra com maestria a história do nosso povo. É poesia viva alimentada pela realidade de quem escreve em vários cantos deste país. Tem uma estrutura fixa: métrica, ritmo, rima e oração. Não se limita, ao contrário, possui um vasto repertório de temas, como: crítica social, estrutura econômica, política, religião, cultura, ecologia e questões de gêneros. Tem como missão retratar a sociedade, seus avanços e retrocessos, através da sua singela e rica poesia. Que sabiamente opta muitas vezes por usar uma linguagem, tema e personagens que tem fácil acesso com o leitor que se reconhece na brasilidade do cordel.
Porém, quem trabalha com Cordel é sem dúvida um resistente. Pois não é bem quisto pela academia, ignorado pelas editoras, diminuído pela crítica literária e acusado de ser folclore pelos ignorantes (O folclore é tema recorrente do Cordel e símbolo de riqueza cultural, porém Cordel é literatura). Além de ter que ouvir que Cordel tem sotaque, que é feito por analfabeto…. E muitas vezes ser tratado como caricato nas feiras literárias. Mas, isso vai mudar, à medida que mais pessoas leiam nossa produção (que mesmo independente segue todas as normas de uma publicação). Já é chegada a hora de pararem de olharem a produção cordeleana como se fosse algo menor, apenas por ser genuinamente brasileira. É hora de aceitar que nós também produzimos cultura.
É uma tarefa árdua a nossa de artistas que muitas vezes atuamos como professores da cultura brasileira, temos que ensinar que Cordel é literatura, que mulher escreve, que povos indígenas e negro produzem conhecimento.
A sociedade precisa compreender que cultura brasileira é feita também, por artistas do povo, resistentes e solitários, que vivem em todos os cantos do Brasil. Nós escritores do gênero literário Cordel recebemos pouco apoio do sistema e dos que detém o poder sobre a literatura brasileira.
Esses fatores nos impactam, mas não determinam a nossa garra e vontade de contribuir para a literatura. Seguimos estudando, formando grupos de salva guarda da Literatura de Cordel- patrimônio imaterial brasileiro, clubes de leitura, simpósios, feiras de livros, apresentações artísticas e lançando obras independentes, mas seguindo a regulamentação legal.
Somos muitos e muitas neste país versejando a cultura. E a cada dia conquistamos pequenos espaços em Editoras que acreditam no poder da poesia e investem para além de um determinado ‘padrão’ literário.
Neste país temos um caso crônico de desamor a cultura, sobretudo aquela feita pelo povo e para o povo. É uma eterna sensação de ‘viralatisse’, chaga aberta da nação brasileira. Aquela que só enxerga como cultura algo importado e de preferência que não faça nenhuma referência a realidade social.
Para encerrar este texto apresento-lhes sugestões de leituras para ampliar nosso debate e estimular o estudo da história do cordel seu passado e sua realidade atual.

Leiam:

Livro -Histórias de Cordéis e folhetos de Márcia Abreu- Editora Mercado das Letras

Textos: Cordel é resistência- Graziela Barduco / Policiais ameaçam de apreender cordéis- Varneci Nascimento

#leiamcordel

Um abraço afetuoso

Lu Vieira

25 jan

Cordel é Resistência

Hoje venho compartilhar com vocês o que aconteceu com nosso grupo de cordelistas aqui da cidade de São Paulo, que resolveu se reunir na Avenida Paulista, no dia do aniversário da cidade, para comemorar os 470 anos desta metrópole que nos acolheu, cada um e cada uma vindo (a) de um canto diferente deste imenso Brasil.
Combinamos de nos encontrar de manhã e, como era uma manhã um tanto quanto chuvosa, o Sesc (que fica no cruzamento da Av. Paulista com a Rua Leôncio de Carvalho) nos autorizou a ficarmos em frente ao seu prédio, na calçada, porém abrigados sob sua marquise.
Assim que montamos nossas mesas, decoradas com toalhas de chita e terminamos de expor nossos livros de poesia e nossos cordéis, fomos abordados por alguns policiais, que diziam estar a mando da prefeitura, nos alertando de que não poderíamos ali ficar, porque, embora a marquise fosse do Sesc, a calçada pertencia à prefeitura, que não autorizava nossa permanência no local.
Tentamos dialogar e apontar o fato de que existia uma lei que respaldava o artista de rua sobre isso, ao que um dos policiais perguntou algumas vezes se sabíamos o número desta lei. Como não recordávamos do número da lei, ele seguiu como se ela não existisse e como se ele estivesse com a razão.
Eu passei a mão em meu celular e passei a procurar sobre a lei no Google.
Nesse meio tempo, meu companheiro, que é advogado, passou a dialogar com os policiais, tentando entender a situação.
Eles seguiram tentando nos impedir de estarmos ali no local com nossa arte e passaram a dizer que iriam apreender nossos livros e cordéis.
Neste contexto todo, já estavam no local 8 PMs e em seguida, 3 vans chegaram também para fazer a apreensão de nosso material artístico.
Liguei para uma amiga advogada e relatei rapidamente o ocorrido. Ela pediu para falar com a sargenta responsável pela ação policial para explicar sobre a situação, mas o consenso não se fez, assim como com o meu companheiro e os policiais.
Eu ainda continuei seguindo com a busca no Google, pela lei que iria nos respaldar e meu companheiro decidiu ir conversar com um dos responsáveis do Sesc, explicando o que estava acontecendo, pedindo por acolhida.
Eu finalmente encontrei sobre a Lei no Google, para poder mostrá-la aos policiais. Mesmo assim, eles não se mostraram dispostos a vê-la em seus pormenores, mas finalmente pareciam ter desistido da apreensão, já que as 3 vans, que ali aguardavam para levar nossos livros e cordeis, deixaram o local. No entanto não houve acordo com a sargenta sobre permanecermos no local, sendo que nós, poetas e artistas de rua, tínhamos (e temos) o total respaldo e direito de ali estar (inclusive vendendo nossas obras), de acordo com a Lei 15 776, sancionada por Fernando Haddad, conforme o link que disponibilizo abaixo:

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/comunicacao/noticias/?p=149181

De início, os policiais disseram que não poderíamos vender nossos livros e cordéis e que por isso eles seriam apreendidos, sendo que na lei diz exatamente o contrário.
Quando por fim conseguimos mostrar este trecho da lei a eles, questionaram a autoria de nossas obras.
Tirei meu documento, empilhei meus livros e pedi que a checagem do autor fosse feita com meu documento.
Na sequência, questionaram se o restante dos livros e cordéis das outras mesas pertenciam aos outros autores ali presentes.
Então eu gritei para meus amigos:

“Cordelistas, façam uma fila com seus livros e cordéis nas mãos e também com seus documentos para checagem com os policiais!”

A sargenta disse que “não precisava de tanto”.
Neste momento, o responsável do Sesc, vendo todo o ocorrido e o absurdo ao qual estávamos sendo submetidos, já que a Lei 15 776 estava sendo completamente ignorada pelas autoridades ali presentes, nos colocou para dentro, nos acolhendo em seu espaço.
E foi aí, quando não mais estávamos no “território da prefeitura”, já que estávamos para dentro do Sesc, é que os policiais repentinamente pediram “desculpas pelo mal entendido”, viraram as costas e evaporaram em segundos.
E assim a gente segue com nossa arte, existindo e resistindo, na certeza de que não vamos parar.

O cordel é resistência
Força intensa, sem igual
Arte pura, magistral
Vem da luta, a persistência
No meu peito, a minha essência
Toda armada de poesia
Me reforça todo dia
Pois com ela tudo enfrento
Sinto o viço aqui por dentro
Fortaleza que me guia.

Sigamos,
Graziela Barduco.

16 jan

Reciprocidade

Há muito tempo que um assunto me visita e revisita com uma frequência tão avassaladora que às vezes sinto o chão estremecer, tamanha a força de seu movimento.
Eu reluto em falar sobre, porque construí, e alimentei para mim, o conceito de que tal condição não é necessária para a sobrevivência, e foi aí que eu me perdi.
Ao perceber que estava redondamente enganada, e que SIM, este valor é absolutamente fundamental, pelo menos para minha concepção do que seria a base de relações mais saudáveis, decido hoje falar sobre o nobilíssimo princípio da RECIPROCIDADE.
A realidade é que o ser humano dessa contemporaneidade doida, excentricamente desvairada, vem se tornando a cada dia mais e mais egoísta, egocêntrico, interesseiro, comodista e exacerbadaente individualista, de modo que atender ao outro ou cuidar e pensar no próximo, parecem situações por demais fora do comum.
Eu não sei por que diabos eu sinto um bem estar imenso em fazer as coisas pelos outros. E também nunca tive o costume de esperar nada em troca (a tal da reciprocidade), até porque acredito que eu seja um tanto orgulhosa, de modo que tenho dificuldades em admitir que preciso de algo de alguém.
Também nunca fiquei esperando o obrigado daqueles por quem algo fiz, embora sempre achei uma palavra linda de ser ouvida, ainda mais quando vinha realmente embuída de gratidão.
No entanto, confesso que jamais esperei, nem nos meus mais sombrios pesadelos, que as pessoas pelas quais eu tenha feito algo de bom, tivessem a indelicadeza e o desconchavo de me fazer o mal.
E foi o que passei a observar por inúmeras e inúmeras vezes nos últimos tempos.
Pessoas às quais eu ajudei e pelas quais eu me doei, me fazendo mal, sem a menor cerimônia.
Uma enxurrada de ingratidão, atrelada a mau caratismo; de dispautério, de mãos dadas à insolência; de egolatria, atada a empáfia… Enfim… Foram muitas as situações.
Bem, desta forma, tudo isso me levou a esta presente ponderação.
Talvez o erro tenha sido meu, em estar sempre disponível e a postos para ajudar o outro, a ponto deste outro pouco me valorizar.
Dito tudo isso, gostaria de registrar que uma dúvida tem estado a me repercutir loucamente, sem parar: se eu tivesse “exigido” a tal da reciprocidade nas minhas ações e relações, tudo não teria sido diferente e não teria eu sido mais respeitada?
Provavelmente não.
Para não me estender muito, fica ainda para mim um grande alerta, depois de toda esta reflexão: me doar por demais, nunca mais! Com uma grande e belíssima exceção à minha família muito próxima (pai, mãe, marido e filho), que o mesmo faz por mim (temos uma baita de uma reciprocidade aqui!). Talvez por isso levamos tão a sério a doação e o amor incondicional ao próximo, já que temos a rara e maravilhosa possibilidade de viver plenamente isso no dia a dia.

E vamos de poesia, para isso tudo reparar, bem como para exorcizar a dor que outrora cá fez morada:

Eu percebo, é muito claro
Por agora, olho ao redor
Meu esforço, sei decor
Tanto fiz, e não foi raro
Tanta gente que amparo
Me demonstra ingratidão
Meu cansaço é solução
Com respeito a mim não vem
Já que o jeito que me tem
Só me afoga em negação.

Um abraço bem apertado,
Graziela Barduco.

17 dez

Sobre a Soberba do Ser Humano

Há tempos que me incomodo profundamente com egos exacerbados, egocêntricos desmedidos e narcisistas de plantão.
Como minha formação foi basicamente toda feita no meio teatral, antigamente eu achava que essa coisa de ego inflado era algo inerente ao meio no qual eu me encontrava. Mas hoje, vivendo bem mais no meio literário do que no teatral, vejo que nesse outro meio é exatamente igual. E, para mais, fazendo um recorte, pensando no mundo cordelístico, novamente acontece a mesma questão.
Muito provavelmente isso seja algo intrínseco ao ser humano, mas, creio eu, e isso é uma opinião muito particular, que aquele que lida com a arte, sofre de uma moléstia que eu costumo chamar de “síndrome do pica das galáxias”, mas isso já é um assunto para um outro artigo.
O fato é que tenho suportado cada vez menos esse exibicionismo em larga escala, atrelado a uma tentativa de desmerecer o outro, pra sentir-se maior e melhor, bem como pra validar seu sentimento de superioridade agigantada.
Se você é excelente naquilo que faz, por que se preocupa tanto em criticar, em tom de deboche e humilhação, a inferioridade daquele que ainda não chegou aos seus tão perfeitos pés?
E por que você se sente tão ameaçado pelo outro a ponto de querer destruí-lo, ou pelo menos desestruturá-lo, se você é assim tão maravilhoso e um ser tão elevado e superior?
Sabe, ontem eu me lembrei de um rapaz das minhas redes sociais, que gosto muito da qualidade daquilo que ele escreve. Ele se autointitula como autor marginal.
Na FLIP deste ano, recebi um jornalzinho que estava sendo distribuído durante todo o evento por lá, com uma matéria falando dele e achei isso super legal. Simplesmente porque fico feliz quando autores conhecidos meus são divulgados, acho o máximo mesmo, me dá a maior alegria!
Ontem mesmo vi uma amiga que tem um trabalho lindo na área da contação de histórias, dando uma entrevista na TV. Daí fotografei a tela e mandei pra ela, rs! Ela ficou feliz e eu amei vê-la num programa super bacana.
Mas voltando a história do rapaz, eu estava na FLIP deste ano pelo IPHAN, pelo segundo ano consecutivo, na programação oficial, com toda pompa e circunstância que a Literatura de Cordel merece, e esse autor estava pela primeira vez lá na Casa da Favela, com toda pompa e circunstância que esta Casa linda da FLIP, recheada de uma programação maravilhosa, merece.
Eu, super empolgada, mandei uma mensagem pra ele, dizendo que havia acabado de receber um exemplar do jornal com uma matéria sobre ele, mandei uma foto da matéria e perguntei se ele já havia recebido também. Ele nem deu “oi”, nem agradeceu e somente perguntou: “recebeu como?”.
Isso porque, provavelmente, na cabeça vaidosa dele, das duas uma: ou só ele é quem deveria estar na FLIP e então só ele é que poderia ter recebido um exemplar do jornal nesse meio tempo, ou então eu não teria a mesma capacidade que ele de estar na FLIP, logo não teria como eu ter recebido um exemplar desse jornal.
Bem, fico com a segunda opção, que me pareceu bem mais óbvia, pela postura egocêntrica da pessoa em questão, já que daí minha ficha começou a cair e comecei a reparar o padrão em outras ações que envolviam o tal rapaz. Enfim… É deste jeito que as coisas se assucedem por infinitas vezes.

Mas, por hora, vamos de poesia, pra exorcizar aquilo que na alma causa rusga.

Essa que lhes apresento, fala exatamente sobre egos que excessivamente me incomodam desde sempre…

Ela chama-se “Sentido da Vida” e foi escrita em janeiro de 2019, durante minhas andanças pelo sertão de Pernambuco, bem na época em que ocorre a Festa de Louro, Festival de Poesia de São José do Egito, festança linda em homenagem ao grande mestre Lourival Batista, e inclusive passou a compor meu primeiro livro de poesias, o “Na Rima da Menina” (Editora Versejar). Em 2020, eu a enviei para João Camacho, que no mesmo dia me devolveu com um lindo arranjo, transformando-a em canção, de modo que na sequência entramos em estúdio para gravá-la e então lançamos um single com ela. Desta forma, além de poesia, ela acabou virando música também.

Sentido da Vida

Aqui nessa mesa eu já me sentei
Pensando na vida, então a esperar
Nas noites de outrora que me levantei
Nos dias de agora afundei sem parar
Desfiles de egos a me enterrar
Sentido da vida que vem me abraçar
Desfiles de egos a me enterrar
Sentido da vida que vem me abraçar.

Nas vidas de dores que eu superei
Desprezo da vida a me socorrer
Nas flores de sempre eu me despertei
Com olhos de choro, querendo o saber
Sabores de amor que eu hei de viver
Sentido da vida que vem me abraçar
Sabores de amor que eu hei de viver
Sentido da vida que vem me abraçar.

É isso, meus queridos e queridas!
Um grande abraço,
Graziela Barduco.

 

 

20 nov

Teodoras lança cordel sobre PAGU na FLIP 2023

De 22 até o dia 26 de novembro, as mulheres escritoras do Teodoras do Cordel, coletivo estadual de cordel feminino do Estado de São Paulo, juntamente aos poetas e poetisas dos coletivos SP Cordel e Cordel Cantante, desembarcam na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, a convite do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para participarem da 21ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) .

Na oportunidade, as escritoras lançarão suas obras individuais e a quarta obra coletiva do grupo, intitulada, “Pagu: Mulher Revolução”, publicada pela Editora Cordelaria Castro, com ilustração de capa de Maria Rosa Caldas, do Selo Pé no Chão.

O evento de lançamento acontece no sábado, dia 25 de novembro, às 16 horas, no espaço do IPHAN, no Areal do Pontal e contará com a presença das escritoras: Edimaria, Cleusa Santo, Lu Vieira, Dani Almeida, Graziela Barduco, Maria Rosa, Maria Clara Psoa e Zenilda Lua.

A obra é um passeio pela vida da célebre escritora, poeta, jornalista, diretora, tradutora, desenhista e cartunista, Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, homenageada da Flip 2023. Essa, é a primeira obra do Teodoras em formato de folheto. “Neste cordel, somos 16 autoras e, coletivamente, escrevemos nossas estrofes em sextilha, seguindo uma linha do tempo poética exaltando o legado de Pagu, uma multiartista que até hoje emana coragem, sendo símbolo de força e luta feminina”, destaca Graziela Barduco,  integrante da comissão de publicações do coletivo.

O Cordel na FLIP
Em 2018, a Literatura de Cordel tornou-se Patrimônio Cultural Brasileiro. Desde então, o Iphan estimula a presença de cordelistas de todo o Brasil na Flip com a Casa da Literatura de Cordel, promovendo os artistas deste segmento e oferecendo ao público, declamações, rodas de conversa, lançamentos e diversas ações de difusão da Literatura de Cordel a partir da voz de seus próprios detentores e detentoras.

Este será o primeiro ano que o cordel ocupará o Areal na Flip. A extensão da Casa da Literatura de Cordel do Iphan no local está situada na Avenida Nossa Sra. dos Remédios, no Pontal. Em anos anteriores, a literatura de cordel concentrava todas as suas atividades no escritório técnico do Iphan, no Centro histórico de Paraty. “Este ano, foi decidido que além da Casa principal, haverá uma expansão da Casa da Literatura de Cordel, organizada pelo o Iphan, para o Areal, onde haverá uma vasta programação com os coletivos de São Paulo, dentre eles o Teodoras do Cordel, Cordel Cantante e SP Cordel”, explica Edimaria, membro da Comissão Paulista de Cordelistas na FLIP.

Serviço:
Teodoras do Cordel e os coletivos SP Cordel e Cordel Cantante na FLIP 2023
Quando?
De 22 a  26 de novembro das 9 às 19 horas
Local:
Espaço IPHAN no Areal do Pontal
Endereço:
Avenida Nossa Sra. dos Remédios, Pontal, Paraty, Rio de Janeiro.

Confira a Programação Completa do Espaço Iphan no Areal do Pontal:

Quarta, 22/11
17h30 – Inauguração da extensão da casa da literatura do cordel – Espaço Iphan, no Areal do pontal.
Quinta, 23/11
10 às 12h – Microfone aberto
14h – Lançamento: Muska, o Amigo Secreto – Varneci Nascimento (SP Cordel)
14h30 – Lançamento: Retalhos da vida – Maria Clara Psoa (Teodoras do Cordel)
15h – Mulheres cordelistas: poesia e resistência – Érica Montenegro (Recife) (Convidada Teodoras do cordel)
15h30 – Apresentação Musical: A Palavra Despida – Costa Senna (SP Cordel)
16h –  Lançamento: Cosmovisão Karajá – o povo que veio das águas – Tin Tin Alves (Cordel Cantante)
16h30 – Apresentação Musical: Nas Asas da Leitura – Cacá Lopes
17h – Espetáculo Cordel Cantante

Sexta, 24 de novembro
10 às 12h – Microfone aberto
14 horas – Lançamentos: O Machista e a Cordelista e Minhas Curvas de Estimação – Graziela Barduco (Teodoras do Cordel)
14h30 – Lançamento: A criança e o Brincar – Lu Vieira (Teodoras do Cordel)
15h – Lançamento: Clamor Ecológico – Dani Almeida (Teodoras do Cordel)
15h30 – Lançamento: Saudade da Bahia – Chico Feitosa (SP Cordel)
16h- Lançamento: Poemas para adiar o fim do mundo – Moreira de Acopiara (SP Cordel)
16h30 – Lançamento: Pentalogia – João Resplandes (SP Cordel)
17h – Lançamentos: O mundo digitalizado do Reino da Saparia e O festival de inverno do Reino da Saparia João Gomes de Sá (SP Cordel)
17h30 – Apresentação  Memórias & Poesia – João Gomes de Sá (SP Cordel)

Sábado, 25 de novembro
10 às 12h – Microfone aberto
14h – Lançamento: A Boneca Viajante – Cleusa Santo (Teodoras do Cordel)
14h30 – Lançamento: Quatro Faces de Rita Lee – Dani Almeida, Maria Clara Psoa, Lu Vieira e Maria Rosa Caldas (Teodoras do Cordel)
15h – Lançamento: Estradas, Engenhos, Sinas – Aderaldo Luciano (SP Cordel)
15h30 – Lançamento: Expoente da Literatura – um cordel para Maria Firmina dos Reis – Lu Vieira e Luciano Braga (Cordel Cantante)
16h – Lançamento: Pagu: Mulher Revolução – Coletivo Teodoras do Cordel
16h30 – Lançamento: Fazenda Limão – Maria Rosa Caldas (Teodoras do Cordel)
17h – Lançamento: O Cavaleiro das léguas – Aldy Carvalho (SP Cordel)
17h30 – Microfone aberto: música e declamação.

Domingo, 26 de novembro
Programação livre até as 16 horas.

 

14 nov

Sobre Joelhos, Curvas, Coxas e Afins

Hoje me veio novamente à cabeça um episódio que aconteceu comigo há alguns anos. Acredito que muito por conta da triste morte precoce, na semana passada, da influencer e assistente de palco que foi fazer uma lipo nos joelhos e, em decorrência desta cirurgia, teve uma embolia pulmonar e veio a falecer.
O fato em questão foi noticiado nos principais jornais e, assim que eu li no jornal que assino, quase que automaticamente tive a curiosidade de buscar seu perfil nas redes sociais, primeiro porque eu não a conhecia, segundo porque eu não sabia que era possível se fazer uma lipo nos joelhos e terceiro porque não passava pela minha cabeça que pudesse existir uma queixa de que nossos joelhos pudessem também serem “acusados” de gordos. Depois ouvi as explicações sobre a condição vascular crônica chamada lipedema, da qual sofria a influencer e fui entender melhor sobre isso.
Mas, assim que vi suas fotos em seu Instagram, eu fiquei automaticamente em choque, pois me deparei com uma moça extremamente linda, magra, maravilhosa, com um corpo perfeito (incluindo aqui suas pernas e joelhos na minha humilde opinião), uma carreira promissora e de sucesso, e sobretudo que aparentava ser imensamente amada pela família, namorado, amigos e por seus fãs.
Eu fiquei absolutamente entristecida e me perguntando o porquê de coisas deste tipo acontecerem com tanta frequência, sobretudo com mulheres.
Por que o corpo da mulher é sempre alvo de críticas ferrenhas (ainda mais se ela está exposta na mídia) e nunca está bom do jeito que está?
Eu ouvi uma entrevista de uma psicanalista na qual ela dizia que o corpo perfeito para uma mulher é o corpo do homem, porque o da mulher nunca está bom, ao passo que o do homem, não costuma ser bombardeado por essa imensidão de críticas como o da mulher o é. Achei simplesmente genial essa fala dela, pois acredito sim que a crítica é sempre mais pesada sobre a mulher, herança, é claro, do nosso já conhecido machismo estrutural.
Eu li outro dia sobre uma pesquisa feita no ano de 2020, pela Sociedade Internacional da Cirurgia Plástica, que, dentre aqueles que se submetem à cirurgias plásticas, 86,3% são mulheres e 13,7% homens. Acredito que tais índices dizem muito.
Mas voltando ao tal episódio que mencionei que me veio à minha cabeça, do qual comecei este artigo falando sobre, segue o incidente, que me acontecera há alguns anos.
Eu tinha acabado de deixar meu trabalho como editora de vídeo (trabalho este decorrente de minha primeira formação acadêmica, pois sou graduada em Cinema), para trabalhar como modelo e passei a integrar o casting de modelos da Elite Models aqui no Brasil.
Na ocasião, só tinha a pós-graduação em Administração, além da graduação mencionada, bem como tinha voltado a estudar teatro.
Naquele tempo eu estava gostando daquilo, me fazia feliz, eu ganhava bem (bem mais do que na edição de vídeo) e também aquela novidade toda aumentava a minha autoestima, que, diga-se de passagem, nunca fora muito boa.
O fato é que, dentre várias das campanhas que costumava pegar, fui aprovada para uma campanha de uma empresa muito bem conceituada de cama, mesa e banho, com uma temática bem interessante e um cachê bacana também.
Bem, eu cheguei ao estúdio para fotografar muito alegre, como de costume, fui bem recebida, estava trocando ideia com as outras modelos, porém alguns minutos depois, o produtor/diretor de arte veio até mim e disse que precisaria me dispensar do trabalho.
Eu perguntei a ele o porquê da dispensa e ele me disse na lata: “você é linda, mas a sua coxa é muito grossa e isso não é nada chique, então fica fora do padrão para a campanha”.
DETALHE: eles tinham me aprovado para o trabalho com muita antecedência, tinham todas as minhas medidas, várias fotos, todo o meu material, etc e tal.
Na época me lembro que saí destroçada de lá.
Chorei muito, liguei para a agência que também pareceu se indignar (ou pelo menos fingiu muito bem, porque atitude mesmo para solucionar o embate não tomou), liguei para meu marido me buscar, fiquei mal pacas e tudo o mais.
Bem, não por acaso, essa história voltou-me à cabeça ao ver o acontecido com a influencer que teve este final tão triste, bem como não foi à toa que recentemente senti a necessidade gigante de publicar um cordel intitulado “Minhas Curvas de Estimação”, que é um dos meus mais novos lançamentos, e que fala exatamente sobre toda esta temática abordada aqui neste artigo.
Ele nasceu enquanto uma espécie de manifesto da mulher que não admite que qualquer padrão de beleza lhe seja imposto e que entende que seu corpo é lindo à sua maneira. É um cordel de autoaceitação e de empoderamento feminino, bem como de cura interior, da menina que já fora machucada com palavras que lhe perfuraram a alma por não estar com o corpo dentro de um padrão de beleza a ela tantas vezes exigido.
Seria um sonho se pudéssemos ser e simplesmente ser, cada qual à sua maneira, bem como contribuir com o mundo das mais variadas formas possíveis, para além da casca que nos é imposta.
Enquanto isso, sigo aqui na minha batalha para que tais amarras sejam cada vez mais e mais eliminadas, de modo que se faça presente “o ser de verdade e a verdade no estar.”:

Outrora tive dúvidas tão selvagens
Sentia o corpo jogado às margens
E a alma um tanto despercebida
Dor mais cruel de minha vida

Cavei um buraco um tanto fundo
Inverti e devastei todo meu mundo
Rabisquei meu diário favorito
Soterrei o que tinha de mais bonito

Eu tinha um sorriso curto
Eu falava tão mais livremente
E a amargura me provocava surto
E o corpo comunicava descrente

Então me vejo tão tímida agora
Eu não era assim, eu fui embora
Ao fugir da arrogância de certo olhar
Meu livre discurso estava a minguar

E me deparo com uma leveza que cura
Com a maravilha de uma alma pura
Mergulho profundo no céu encantado
Saltei do buraco que havia cavado

Meu discurso hoje é movimento
Meu saber está neste mais puro olhar
Trabalho a escuta do pensamento
Compartilho a essência do que é amar

Curtas palavras, longos sorrisos
É desta forma que quero propagar
A delicadeza sem tantos avisos
O ser de verdade e a verdade no estar.

Com carinho,
Graziela Barduco.

04 nov

A Desunião Cordelística

Estava acompanhando uma discussão acerca de um Congresso de Cordel que acontecerá na Casa de Rui Barbosa no Rio, ainda neste mês de novembro.
Achei magnífica a ideia de se ter um congresso sobre cordel, sendo este intitulado como o “I Congresso Brasileiro de Literatura de Cordel”, inclusive por ser sediado em uma casa que possui um dos mais importantes acervos de cordel do mundo e inclusive por ter artistas e pesquisadores, em sua grade de convidados que eu muito admiro.
No entanto, esta informação de que este congresso aconteceria, não chegou formalmente a muitos cordelistas, cantadores (as), xilogravadores(as) e pesquisadores do assunto, o que acabou causando muita estranheza e abrindo um ponto para debate em um grupo de discussão no WhatsApp sobre o Movimento do Cordel Brasileiro.
A pauta inicial para discussão neste grupo era a falta de um comunicado oficial a um maior número de cordelistas, cantadores (as), xilogravadores (as), editoras, coletivos de cordel, pesquisadores e afins, acerca de um evento de tamanha importância, realizado pela Fundação Casa de Rui Barbosa em parceria com a Secretaria de Formação, Livro e Leitura e Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.
Em um segundo momento, houve também um questionamento sobre a curadoria do evento, que, além de escolher os nomes que brilhantemente compõem a grade do evento porque são nomes que tem amplas pesquisas na área e um trabalho exímio a frente do campo cordelístico, outros nomes poderiam ser também agregados, visando a diversidade e inclusão num evento que promete ser o “I Congresso Brasileiro de Literatura de Cordel” (e aqui a ideia era agregar mulheres, indígenas, negros, deficientes, pessoas LGBTQIAPN+, etc).
Posto isso, durante a tentativa de debate, reflexão e diálogo com os responsáveis pela realização do evento para que tais pontos fossem olhados com mais cuidado na organização e divulgação de um evento de tamanha importância e necessidade, passei a me assustar com algumas (muitas) colocações.
Às vezes, as lutas se enfraquecem e se perdem, se dissolvendo ao vento, principalmente quando todas as pessoas estão do mesmo lado e por um mesmo ideal e insistem em achar que estão de lados opostos.
Muitas vezes as lutas se diluem porque algumas pessoas apenas querem intriga, jogar uns contra os outros, normalmente tentar rivalizar dois que estão pelos mesmos princípios, sem perceber que todos assim saem perdendo.
Neste grupo de WhatsApp eu sou praticamente invisível, uma ninguém, talvez porque eu seja uma “paulistinha idiota” que escreve Cordel e pergunta “que horas é a reunião” e a grande mestra que conduz o grupo não é capaz de responder.
Talvez porque ninguém saiba da minha luta e aos olhos do povo de lá eu seja uma “fraca” porque luto em coletivo e não sozinha.
Mas é que a minha avó me ensinou que a casa cheia de mulher “trabalhadeira” sempre anda nos conformes e que na hora da refeição todo mundo senta na mesa independente de quem seja você.
Hoje não participarei da reunião porque acredito que a luta daquele grupo de WhatsApp já se deturpou.
O mote? Já glosei. Quem quiser que leia. Já até publiquei!
Obrigada!

 

03 nov

Sobre sentirmos pertencentes a determinados grupos.

Desde que me entendo por gente, sempre me vi “associada” a algum grupo.
Na primeira infância, eram as amiguinhas da pré-escola (grupo este que por sinal dura até hoje).
Depois vieram os grupos de dança, teatro e também de fãs dos artistas que gostava.
Na faculdade, vieram os grupos sobre cinema, literatura, teatro novamente e os grupos de arte em geral. Ahhh, escondo aqui os grupos das salas de bate-papo do UOL (quem lembra? Misericórdia!!!!! Rs!!).
Depois me lembro dos grupos de trabalho, primeiro os de produtoras de cinema e audiovisual em geral, depois novamente de teatro, artes plásticas e arquitetura.
Daí veio o mundo da moda e então os grupos sobre moda, publicidade, cinema, TV, webserie, castings, agências de moda e de atores e atrizes.
Então montei minha cia de teatro e voltei pra academia com as pós-graduações e mestrado em teatro, e então vieram os grupos de teatro, de discussão sobre o fazer teatro, os desdobramentos da cena contemporânea, dentre inúmeros outros grupos, até que, por fim, por conta do tema de meu mestrado, totalmente focado na cultura popular brasileira e que fez com que eu mergulhasse de vez no universo da literatura, eu passasse a fazer parte de grupos sobre literatura, cultura popular brasileira, cena literária atual, além de teatro contemporâneo, a contemporaneidade na escrita autoral e por fim em uma porção de grupos sobre cordel, assunto pelo qual sou totalmente apaixonada, já que acabei me tornando uma cordelista das boas, embora nem todos sejam capazes disso admitir.
Tudo isso pra dizer que hoje me peguei “discutindo” com uma pessoa a quem muito estimo e respeito porque ela dizia que lutava sozinha já que era forte, e eu dizia que lutava em grupo porque talvez fosse fraca pra lutar sozinha.
Mas daí fiquei pensando e repercutido isso em mim: se tenho a disponibilidade e a generosidade de lutar de mãos dadas com outras pessoas, isso jamais se daria porque sou mais fraca do que quem trava sua luta de forma solitária. Muito pelo contrário. Se permito que ao grupo minha luta chegue junto, é porque aprendi a amplificar minha força, sempre sublime e exuberante, através da união de outras forças, assim igualmente sublimes e vivazes, de modo que uma potência sem igual possa de forma invencível se desenhar.

E bora de poesia pra brindar a coletividade, com mote da cordelista e doutora Paola Torres: *Imagina o Brasil ser mais unido / E o cordel ser a voz da nossa gente!*:

Já faz um tempo que cá eu percebo
Uma panela que tanto persiste
O caso além de ser sério é triste
É algo que nem sequer eu concebo
Dessa fonte eu realmente não bebo
Mesmo que às vezes me sinta impotente
Sigo com aquilo que é condizente
Pois eu sou parte do povo excluído
“Imagina o Brasil ser mais unido
E o cordel ser a voz da nossa gente!”

Um abraço, queridos e queridas!
Seguimos fortes, unidas e unidos,
Graziela Barduco.

12 out

Machismo no lançamento de “O Machista e a Cordelista”

Vocês acreditam que eu sofri machismo enquanto lançava “O Machista e a Cordelista” no espaço do Sesc na Bienal do Livro de Pernambuco?
Eu até agora estou sem acreditar, porque foi uma cena muito surreal.
Estávamos no meio de um painel de mulheres, do qual eu fazia parte com meus cordéis que eram lançamentos, e no qual também estavam presentes a cordelista maravilhosa Gracie Castro, responsável pela Cordelaria Castro, editora pela qual lanço todos os meus cordéis (mais para frente se juntou a nós também a Kelmara Castro, responsável por todas as xilogravuras dos meus cordéis) e ainda estávamos com a presença honrosa de Dona Deo do Coco, uma grande mestra da cultura popular brasileira, nos encantando com suas maravilhosas canções. Uma mesa linda, montada carinhosamente pela querida Adriana Mayrinck, da In-Finita Portugal, que nos recebeu com tanto amor.
Eu estava terminando de falar sobre “O Machista e a Cordelista” e em seguida Dona Deo já engataria mais um coco lindo, com Katia sua produtora acompanhando no pandeiro, eu no caixixi e todo mundo ali cada vez mais maravilhado com essa senhora de oitenta e poucos anos tão sábia, linda, talentosa e brilhante.
Enquanto eu falava, surgiu uma criatura com um violão e uma caixa de som, e foi se achegando, ali para perto do palco. Eu até pensei que pudesse ser algum músico de Dona Deo, pra estar assim subindo no palco no qual nos apresentávamos.
Eu terminei de falar e me sentei, Dona Deo então começou a cantar e este homem do violão começou a tocar por cima da música dela, a atrapalhando completamente.
Um outro homem me pediu meu microfone, achei que fosse algum técnico do Sesc e entreguei a ele.
A organizadora, meio que sem entender direito, pediu para que o homem do violão deixasse Dona Deo tocar só com a percussão e assim foi.
Logo que esta canção de Dona Deo se encerrou, o homem que havia pego o microfone da minha mão colocou-se a cantar (ele tentou me calar quando pegou o microfone da minha mão?), o do violão desafinado colocou-se a tocar. Todos por cima de Dona Deo.
Katia a retirou do palco. Gracie e eu ficamos. Eu me levantei com meu cordel “O Machista e a Cordelista” em punho e o palco assim ficou dividido: de um lado Gracie e eu, do outro “os invasores”. Um outro cantador emendou na cantoria do primeiro, até que pararam para receber aplauso e eu perguntei:

– O que é isso? É machismo que estou sofrendo? Estou aqui lançando meu cordel “O Machista e a Cordelista” e Dona Deo está aqui neste palco se apresentando com suas canções. Como vocês invadem nossa apresentação no meio e começam a tocar?

Bem, não souberam responder e se retiraram.
Dona Deo voltou ao palco e seguimos nossa apresentação até o final, como se nada tivesse acontecido e em seguida começou a apresentação que estava anunciada na programação como posterior a nossa apresentação, tudo conforme a programação oficial, no site da Bienal e no site do Sesc.
Mas eu juro, foi uma das coisas mais surreais que já vivenciei em toda a minha vida e só me dá a certeza absoluta de que estou no mais correto e certeiro caminho quando decidi por lançar “O Machista e a Cordelista. Acho que nunca recebi um sinal tão claro e tão ilustrativo assim.

E bora de poesia, pra digerir o ocorrido.
Eu acho que já compartilhei essa com vocês, mas dadas as circunstâncias, super preciso mandá-la novamente. Cai como uma luva!

Lutei contra 100 leões
Todos os 100 eram jumentos
Quando em meio aos tormentos
Fui buscar boas lições
Mas só vi aberrações
Que sentiam-se divinas
Boicotando as meninas
Pra sentirem-se potentes
Porém, saibam, seus dementes
Macho nenhum me domina.

É isso! Sigamos firmes!
Um abraço,
Graziela Barduco.

Visite nossas redes sociais