Há tempos que me incomodo profundamente com egos exacerbados, egocêntricos desmedidos e narcisistas de plantão.
Como minha formação foi basicamente toda feita no meio teatral, antigamente eu achava que essa coisa de ego inflado era algo inerente ao meio no qual eu me encontrava. Mas hoje, vivendo bem mais no meio literário do que no teatral, vejo que nesse outro meio é exatamente igual. E, para mais, fazendo um recorte, pensando no mundo cordelístico, novamente acontece a mesma questão.
Muito provavelmente isso seja algo intrínseco ao ser humano, mas, creio eu, e isso é uma opinião muito particular, que aquele que lida com a arte, sofre de uma moléstia que eu costumo chamar de “síndrome do pica das galáxias”, mas isso já é um assunto para um outro artigo.
O fato é que tenho suportado cada vez menos esse exibicionismo em larga escala, atrelado a uma tentativa de desmerecer o outro, pra sentir-se maior e melhor, bem como pra validar seu sentimento de superioridade agigantada.
Se você é excelente naquilo que faz, por que se preocupa tanto em criticar, em tom de deboche e humilhação, a inferioridade daquele que ainda não chegou aos seus tão perfeitos pés?
E por que você se sente tão ameaçado pelo outro a ponto de querer destruí-lo, ou pelo menos desestruturá-lo, se você é assim tão maravilhoso e um ser tão elevado e superior?
Sabe, ontem eu me lembrei de um rapaz das minhas redes sociais, que gosto muito da qualidade daquilo que ele escreve. Ele se autointitula como autor marginal.
Na FLIP deste ano, recebi um jornalzinho que estava sendo distribuído durante todo o evento por lá, com uma matéria falando dele e achei isso super legal. Simplesmente porque fico feliz quando autores conhecidos meus são divulgados, acho o máximo mesmo, me dá a maior alegria!
Ontem mesmo vi uma amiga que tem um trabalho lindo na área da contação de histórias, dando uma entrevista na TV. Daí fotografei a tela e mandei pra ela, rs! Ela ficou feliz e eu amei vê-la num programa super bacana.
Mas voltando a história do rapaz, eu estava na FLIP deste ano pelo IPHAN, pelo segundo ano consecutivo, na programação oficial, com toda pompa e circunstância que a Literatura de Cordel merece, e esse autor estava pela primeira vez lá na Casa da Favela, com toda pompa e circunstância que esta Casa linda da FLIP, recheada de uma programação maravilhosa, merece.
Eu, super empolgada, mandei uma mensagem pra ele, dizendo que havia acabado de receber um exemplar do jornal com uma matéria sobre ele, mandei uma foto da matéria e perguntei se ele já havia recebido também. Ele nem deu “oi”, nem agradeceu e somente perguntou: “recebeu como?”.
Isso porque, provavelmente, na cabeça vaidosa dele, das duas uma: ou só ele é quem deveria estar na FLIP e então só ele é que poderia ter recebido um exemplar do jornal nesse meio tempo, ou então eu não teria a mesma capacidade que ele de estar na FLIP, logo não teria como eu ter recebido um exemplar desse jornal.
Bem, fico com a segunda opção, que me pareceu bem mais óbvia, pela postura egocêntrica da pessoa em questão, já que daí minha ficha começou a cair e comecei a reparar o padrão em outras ações que envolviam o tal rapaz. Enfim… É deste jeito que as coisas se assucedem por infinitas vezes.

Mas, por hora, vamos de poesia, pra exorcizar aquilo que na alma causa rusga.

Essa que lhes apresento, fala exatamente sobre egos que excessivamente me incomodam desde sempre…

Ela chama-se “Sentido da Vida” e foi escrita em janeiro de 2019, durante minhas andanças pelo sertão de Pernambuco, bem na época em que ocorre a Festa de Louro, Festival de Poesia de São José do Egito, festança linda em homenagem ao grande mestre Lourival Batista, e inclusive passou a compor meu primeiro livro de poesias, o “Na Rima da Menina” (Editora Versejar). Em 2020, eu a enviei para João Camacho, que no mesmo dia me devolveu com um lindo arranjo, transformando-a em canção, de modo que na sequência entramos em estúdio para gravá-la e então lançamos um single com ela. Desta forma, além de poesia, ela acabou virando música também.

Sentido da Vida

Aqui nessa mesa eu já me sentei
Pensando na vida, então a esperar
Nas noites de outrora que me levantei
Nos dias de agora afundei sem parar
Desfiles de egos a me enterrar
Sentido da vida que vem me abraçar
Desfiles de egos a me enterrar
Sentido da vida que vem me abraçar.

Nas vidas de dores que eu superei
Desprezo da vida a me socorrer
Nas flores de sempre eu me despertei
Com olhos de choro, querendo o saber
Sabores de amor que eu hei de viver
Sentido da vida que vem me abraçar
Sabores de amor que eu hei de viver
Sentido da vida que vem me abraçar.

É isso, meus queridos e queridas!
Um grande abraço,
Graziela Barduco.

 

 

Graziela Barduco