Faz tempo que não apareço por aqui… muitas demandas, principalmente da finalização do meu doutorado, então estou dedicada a isso, rsrs… Mas essa semana fiz uma publicação em meu Instagram @mariaclarapsoa e minha colegas do coletivo Teodoras me incentivaram a elaborar mais aqui na coluna, uma grande ideia visto que o tema sobre maternidade, mulheres, crianças e carnaval tem tudo a ver com a gente.

Pois bem… Esse foi o primeiro carnaval (2024) que de fato curtimos com nossa filha em bloco de rua! Carnaval pra mim é tradição e de ótimas recordações. Desde sempre lembro de pular carnaval com meus pais e meus irmãos, e até hoje é costume nosso, além de passar para nossos filhos, sobrinhos a magia do carnaval.

Bloco dos Cão na Praia da Redinha em Natal-RN Ano 2002, eu sou a menor do meio com 8 anos

Carnaval é espaço de convivência, é aglomerado, mas também calmaria, ao mesmo tempo que tem bagunça, organiza nossos desejos e anseios, nos torna alguém que nos escondemos durante todo ano, nos permite ser quem somos, isso acalma nossa mente e coração.

Depois que tive filha o ritmo diminuiu muito! Ano passado pulamos um dia sem ela, e outro com ela em um bloco infantil, mas sem muita aglomeração. Esse ano nos propomos a nos aventurar, a ir pra rua mesmo, para ela conhecer o que é carnaval, mas também para curtimos, ela já entende muita coisa e está mais resistente ao cansaço. Fomos… escolhemos dois dias pra pular, domingo e terça, obviamente não conseguiríamos seguir o mesmo ritmo de antes mas foram dois dias bem alegres e Elis gostou muito, inclusive já falou que ir no carnaval de novo. rs…

No primeiro dia fomos ao bloco Samba Rock e Serpentina, concentração em frente ao bar da dona Tati, uma delicia de bloco, com bastante criança e livre para circulação ao caminhar nas ruas da Barra Funda! Próximo ano estaremos lá novamente…Em seguida no Bloco do Ilu Oba de Min, bem cheio, mas acolhedor para as famílias, tinha um espaço do cordão só para pais e crianças poderem curtir com tranquilidade.

Mas o que me indignou e me fez escrever esse texto é a diversidade do carnaval e infelizmente nem todos os espaços respeitam essa diversidade. Um espaço/evento que tem como proposta agregar, acolher, se juntar, diversificar, tem blocos que carregam só no nome essas palavras, mas a prática deixa a desejar.

Existem mães e pais que querem pular carnaval, e os blocos precisam pensar nessa condição. Fiquei bem decepcionada com o Bloco Pagu, o qual nos organizamos pra ir principalmente pelo seu significado, carregando o nome de Patrícia Galvão, grande mulher na história brasileira, e músicas de Rita Lee uma potência de mulher no Brasil. Inclusive recentemente as Teodoras escreveram uma obra em cordel riquíssima que fala de “Pagu: mulher revolução.” Contamos de toda sua trajetória de vida, seu caminho revolucionário, a primeira mulher presa na ditadura. Sim… fez história!

O bloco Pagu é bem estruturado, com bastantes seguidores e foliões. Banda maravilhosa, mulheres que passam firmeza no batuque e na voz, mas infelizmente não tem espaço para mulheres mães, um bloco que prega o feminismo, não acolhe nossas crianças. Não foi só uma pessoa da organização, foram várias que abordei para poder passar para o lado de dentro da corda enquanto o bloco se apresentava, como eu disse, estava bem cheio.

Vale ressaltar que a parte interna da corda estava muito vazia e bastante espaçosa, mas ouvi da produção “se formos deixar todas as mães com crianças entrarem?” Oxi, com a pouca quantidade de crianças que tinha, daria bem menos de gente que tinha dentro da corda. E ainda assim, pq não? Tinha muito espaço, além de nos sentirmos mais seguras. Depois fui em outra organizadora que tinha algumas pulseiras na mão, pois alguém tinha dito que só podia com pulseira, pois bem, ela disse que não podia fazer nada! Enfim, minha indignação é que o bloco que carrega o nome de uma mulher que tanto nos defendeu pode fechar os olhos e não fazer nada ao acolher pais e crianças? Nesse mesmo bloco encontramos algumas amigas, além do publico, foram super acolhedores, inclusive muitas pessoas vinham nos abordar pra pedir pra produção deixarmos entrar no cordão, não fomos só nós que nos iludimos…

Saímos do Pagu e fomos no bloco Agora Vai, outro espaço acolhedor. Elis dormiu no nosso colo, pulamos dentro da corda, além dos organizadores virem perguntar se precisávamos de alguma coisa. Um bloco com bem menos estrutura e tamanho que o de Pagu, sem mega produção e um espaço muito menor do cordão. De fato mostrou que inclui as diversidades do carnaval!

Nós três descendo no Metrô Santa Cecilia para pegar o Bloco Agora Vai (terça de carnaval 2024)

Enfim, essa é a diferença. Queria apenas fazer esse registro pra dizer: pais e crianças também curtem carnaval e é lugar de criança sim! Não podemos levantar só a bandeira, é preciso agir, feminismo sem olhar pra nossas crianças é só discurso…

Maria Clara Psoa

Maria Clara Psoa é natural de Natal-RN, mestra em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC e Doutoranda em Serviço Social pela PUC – SP pesquisando as culturas de resistência no Brasil, dentre elas o Cordel. Lançou seu primeiro cordel aos 15 anos de idade, intitulado: “O tolete de Itu”. Também é autora da obra “São tantas as Marias”, lançado recentemente. É rapper e milita no Quilombo Brasil Movimento Nacional de Hip Hop. Atualmente reside em São Paulo capital e faz parte do time de cordelistas do Coletivo Teodoras do Cordel – Artevista SP.