Ser mãe é doar o seu estado de presença. Vai além do amor incondicional. Por que será que só se fala mais, do amor incondicional da mãe? Por que não é comum também, se discutir o amor incondicional de um pai? Só daí, já começa a cobrança.

Não deixamos de ser mulheres depois que nos tornamos mães. Continuamos tendo outros diversos interesses na vida pessoal, amorosa, profissional. Então, porque, ao invés de questionarem as mulheres que querem continuar tendo (ou não) outras rotinas (além da maternagem), não são criadas oportunidades para que todas as mães possam fazer o que realmente desejam e precisam? Se trabalha fora e terceiriza a educação dos filhos, é criticada; Se fica em casa e deixa o emprego, também. Se engorda depois dos filhos, é desleixo. Se deixa de frequentar lugares, é antissocial. É conciliar vida amorosa, casa, corpo, saúde mental, trabalho profissional e tantas outras cobranças incutidas na mente da mulher ao longo de tantos anos, que é impossível não se sentir culpada por não dá conta de tudo.

Ser mãe não é sinônimo de você ter que se renunciar cem porcento. Qualquer que sejam as escolhas da nossa vida (seja ou não escolhendo ser mãe), sempre renunciaremos a algo. Tudo é questão de prioridade. E na construção de uma prole, não seria diferente não é mesmo? Então por que, nós mulheres, nos sentimos tão culpadas de tudo, principalmente no quesito maternidade?

A pressão social com certeza é um dos fatores mais determinantes. Produzir seres humanos de “sucesso” é a garantia do capitalismo continuar existindo. Então mulher, trate de garantir isso, porque se depender dos pais (homens detentores do poder), tudo estará em risco.

É por essas e outras questões que, cada vez mais, os discursos relacionados ao feminino vêm sendo reconstruídos. E toda mudança gera estranhamento não é mesmo? Mas tem gente que prefere dizer que feminismo é algo ruim, coisa de loucas que agem como macho e não querem se depilar (e mesmo se fosse, o que muda a vida de alguém elas serem assim?). O fato é que discursos generalistas e estereotipados, existem apenas para que nós, mulheres (as únicas que realmente sabem onde o calo aperta no dia a dia), nos sintamos cada vez mais culpadas e inibidas de sermos quem realmente somos. Como assim, compartilhar vitórias e acolher fraquezas? Vocês têm mesmo é inveja umas das outras!(Que mulher nunca ouviu isso na vida?)

Por que será que tantas mulheres se sentem ainda mais sozinhas quando se tornam mães? Somos humanas. Somos MULHERES. É urgente que tenhamos um olhar mais empático com as nossas próprias questões. Inclusive a de julgar (ou tentar justificar) os porquês das mulheres que decidem NÃO SER mães. Isso é uma escolha de cada uma e tá tudo certo. Será que um homem que não deseja ser pai é tão questionado assim?

Não cabe mais, nos dias de hoje, a gente julgar uma igual (seja ela mãe ou não) por qualquer motivo que seja. Vamos ser o que é possível, e aplaudir o esforço da luta de cada uma. Sororidade já!

E se em algum momento, a gente conseguir uma brecha para sair da própria luta individual (que também não é nada fácil) e conseguir ajudar uma outra mãe com a luta dela (mesmo que a sua luta pareça ser a maior de todas), com certeza em algum momento o nosso fardo se tornará mais leve. Não basta apenas falar: – Vai passar! Se puder ajudar a tornar leve o que tá pesado pra ela (naquele momento), tenha certeza que isso jamais será esquecido. Seja chegando com uma comidinha pronta ou propiciando uma simples conversa lavando uma louça, dando um banho num filho dela pra ela poder tomar o próprio banho, ficando algumas horas com as crianças dela pra ela poder dar uma saidinha com companheiro, ou mesmo, poder cochilar sem interrupções. São ajudas tão “tolas” que nem parecem ter tanta importância né? Mas toda mãe sabe o quanto essas pequenas ajudas revigoram suas energias.

Haverão aqueles que pensarão: – Então porque teve filhos? E porque teve mais de um filho se não pode bancar babá, escola x, y, z? Mas, e se não fosse essas corajosas para colocar esses seres humanos no mundo, o que seria da nossa espécie? Tendo filhos ou não, todos somos responsáveis pelas crianças deste mundo. Nem todo mundo é mãe, mas todos vieram de uma! Vamos valorizar mais o maternar e julgar menos. Todas as mães dão aos seus filhos aquilo que é possível, principalmente as mães solo. O impossível, o incondicional, vamos deixar para os contos de fadas. Aliás, até os autores (as) de contos de fadas já estão mudando essas narrativas. Mas isso é papo para um outro artigo. Finalizo hoje, com este decassílado escrito para a minha obra Maternagem em Sete Versos, publicado pela Editora MWG.

MATERNAR É EXALAR
AMOR EM ESTADO PURO
TER FÉ, SER PORTO SEGURO,
EM SITUAÇÕES DO FALAR
RIR E TAMBÉM SILENCIAR
NÃO DEIXAR DE OUVIR OS BANJOS
AFINADOS PELOS ANJOS
GUIAR COM SIMPLICIDADE
ENTENDER NOSSA VERDADE,
MELHORANDO SEUS ARRANJOS!

Um xêro na alma,
Dani Almeida

Dani Almeida

Dani Almeida é mãe de 3 meninas e um anjo. É arte-educadora, poeta-cordelista, escritora e jornalista especializada em gestão e educação da infância com ênfase na contação de histórias. Criadora do método CriAtive Cordel, realiza oficinas e workshops sobre cordel e espetáculos de contação de histórias. É autora da obra Maternagem em Sete Versos (editora MWG) e de dezenas de títulos em literatura de cordel, dentre eles o "Luta Contra a Violência Feminina em Cordel" (apresentado no programa Criança Esperança em 2019). Para saber mais sobre Dani acesse: www.danialmeida.com ou as redes sociais @danialmeidacordel