Visite nossas redes sociais

21 maio

Papel higiênico

PAPEL HIGIÊNICO

Pois é. Aqui estou eu cagada, sem água na torneira e sem papel para limpar a bunda. Reinando humilhada em meu único trono. Isso reflete a minha humilde vida de hoje, cara pessoa leitora. Envolvida com as responsabilidades, ou melhor com as irresponsabilidades dos outros, chego ao ponto de não pagar as minhas dívidas, resolver os meus perrengues, nem mesmo dar conta de uma transa e até esqueço de comprar papel higiênico.

Mas essa dedicação ao desenvolvimento da obra do outro, ou seja, tomar conta da cagada alheia, sempre esteve presente em minha vida. É uma perseguição presente. Agora vejo tudo. Principalmente observando os belos toletes flutuantes, que tenho pena de mandar embora para não ficar sozinha. Desculpe-me, pessoa leitora, a impecável escatologia Poe-Dos Anjos, porém é sabido que algumas coisas na vida só ganham denotação pela observação concreta da obra.

Penso: se é possível dar forma às nuvens, ler a borra deixada pelo café marroquino, interpretar as sombras nas águas do rio, ou as gotas de vela, que revelam o nome do futuro marido  na bacia virgem na noite de Santantonho, por que cargas d´água eu não posso ler o que revelam os meus toletes boiando? Formam um olho. E só pode ser o olho do cu. Exponho por excreção explícita as minhas amarguras, é o que tenho para hoje. E é assim de onde eu vim. Na cara dura. De forma crua. Percebo que trago em mim todas as cagadas de minha terra e levo-as em meu sotaque, na pele, para onde eu vou. Sabes por quê? Porque é o mesmo cu ainda. E já que estou cagada mesmo, vou é filosofar sobre a situação. Dizem os sábios que quando na merda “se saia de crau”. Então sigo em exploração o despertar das cagadas da minha vida.

Espera, espera aí. Respira, respira fundo. Mais um pouco. Sentiu o odor de merda? Não? Ah.. vai dizer que só eu é que estou cagada, com o rabo sujo e refletindo sobre a própria existência? A verdade é que nos acostumamos com a catinga de nossa cagada. Ela vai maturando e evolui aos poucos, passando à categoria de fedor e acomoda-se. Um tanto depois, evolui para cheiro e por fim põe-se em sua “venta” como essência ou fragrância essencial. E o sinal que a merda antes “carne de quarta”, podre e matadora de narinas, passa a ser conotada como na-tu-ral. Pois é, respira fundo, já que estás acostumada com o aroma. Não pira, pois tem sempre uma cagada bem mais fedorenta que a tua a ser cheirada.

Voltando as minhas divagações sanitárias. Um pensamento entalhado em um banheiro de posto de gasolina, na rota da BR232, em meados de 70, marcou a minha vida. “Merdas cagadas, não voltam ao cu”. Estava ali, diante dos meus olhos, a sabedoria universal de Einstein, cravada na porta de um banheiro de beira de estrada. Pura verdade e eu só consegui ler, porque estava na altura certa. Nessas ocasiões em que precisava me aromatizar de mim, eu tirava a sandália e colocava no assento para evitar o contato. E foi assim, um tanto mais alta, que li a frase marcante de minha sina. Achei muito mais eficiente que “águas passadas não movem moinhos”. Creio que por a imagem de água sempre levar a um significado intuitivo fofinho. Agora a cagada, é uma realidade cheirável e tátil.

A partir de então, adotei o cu como um índice benéfico a minha aceitação social. Penses o poder que esta palavra monossilábica representa ao mundo. Uns a amam, como eu. Outros odeiam ou nem pensam no bichinho, ou bichinha, ou bichinhe. Exemplo, agora vou falar de minha vida cu. Olha aí. Virou a cara? Teve nojo, asco, incomodo ou não quer ler mais? Ou está rindo até agora com a consciência que no fundo, no fundo, tudo acaba em merda? Tu já entendeste o panorama. Duas letras que sintetizam décadas de existência entre prisões de ventre e caganeiras. Viver a vida da outra ou do outro, cuidar mais do mundo, que que de mim mesma, se deve a uma síndrome que eu batizei de Síndrome do Segundo Lugar, ou SSL.

A SSL me aterrorizava quando estava prestes a competir por qualquer premiação, ou por uma nomeação, por uma citação, por uma assinatura, ou qualquer atividade contextualizada como um processo de saber quem era melhor em algo, melhor música, conquistar um lugar top de qualquer coisa, ou ser destaque, ou concorrer a Rainha do Milho, ou dançarina de Lambada, algum ranking…. aiiii. Creio que o conjunto da obra sempre salva a pessoa antes morrer. Mas comigo o que acontecia era ter que me contentar com o segundo lugar. É um quase, é um quase lá. Não é 50% nem 100%. É 90%. E ficam esses 10% de dúvidas e questões que te perseguem, e sabotam eventos especiais. Tirar B é não A. Ser 9,2 e não nota 10?

A SSL me deixava com aquele gostinho de quase ter comido tudo e fica faltando aquele finalzinho. Aquele pedaço de carne do prato de almoço roubado pelo irmão maroto. E como um coito interrompido. E como estar ali no rala-e-rola. Ali no dale, dale, dale, e dale mais. No tele-e-zaga, chegando nível krau nº 5 e então… A pessoa precisa urinar! Bussanha, viu! Essa vida medalha de prata, ficar à sombra ou não aparecer por não merecer. Vida cu é o da impostora, bota para fora quando poderia aproveitar e botar dentro, com carinho consensual. E então botar para fora com intencionalidade e manutenção de si. Eu acreditava piamente que não era para mim e que nunca seria, que não me era merecido. É tu só vê e pensa que a obra é da outra, é do outro, e não é tua. Aquelas pessoas mereciam o ouro e eu não. A SSL me cegava e se estabilizava cada vez mais fundo. Neguei e fugi dos ouros. Prata ou bronze já estavam bem.

Até que um dia o basta veio. A muito custo. E vem porque o mundo te contempla e devolve os esforços da corrente do bem. E para para sobreviver e preservar-me perante a corrida ao destaque de contas pagas, principalmente em meio machista, autoritário e castrador, desenvolvi uma defesa afim com minha personalidade: a capsula imaginária EMBURREÇA-SE. Uma super-power-mega-bluster-power-ranger-rosa para manutenção de minha integridade física, mental e social; e ainda preservar minha assinatura na coletividade.

Com a capsula EMBURREÇA-SE, eu conseguia escapar de uma situação competitiva e ainda assim ter uma oportunidade de vez e voz plantada para colheita futura. A posologia sempre e ainda o é, bem simples. Ao perceber que a tua ideia pode causar um frisson, perturbar a criatividade alheia de uma superior, provocar a discórdia entre a família, destronar uma cagante comum ao seu meio, administre uma capsula intra-retal e segure tua onda. No momento oportuno após ser estabelecido o dilema, ou exposto o conflito, veja se a tua estratégia-ouro, camuflada em prata ou bronze, se adapta. Então exponha. Em caso negativo, reserve-a na gaveta de tesouros, para eventos futuros. Poupar ouro, sempre foi e sempre será uma boa saída às entressafras de uma gestão. Uma reserva energética e idearia é sempre útil ou pelo menos pode-se pagar uma boa empena.

EMBURREÇA-SE sempre foi o alívio certo em situações onde, bastava uma palavra minha para exterminar dez babacas ridículos, machistas, misóginos, e até mesmo derrubar argumentos de mulheres bitoladas ignorantes. A capsula EMBURREÇA-SE traz em sua identidade visual tons azuláceos e traços esverdeantes. Paleta de cor que proporciona a temperança da personalidade, abrandamento de angústias e ansiedades; e te leva a um ponderamento: Não são necessários, em todos os momentos e em todas as situações, ideas tão super-megas criativas, resolutivas, eficientes e eficazes. É importante olhar o seu aterramento. De onde vens e o que te fortalece. As cagadas de teu passado podem te salvar.

A primeira poda de pessoas inteligentes e assertivas em mundo que silencia essas personalidades, será vivida dentro da família. Que começa controlando nossas línguas, lábios superiores e lábios inferior; e nossa fala-corpo quanto um todo. A problemática, ainda preservada, foi estabelecida a centenas de anos em ambiente em que os pais têm inteligências diferenciadas dos filhos e temem por sua evolução. A geração vindoura tem que superar a anterior, ou a vida não se preserva. O Mestre tem que ser superado por seu pupilo ou pupila.

Mas crescida em ringues em casa, na rua, na escola, no interior e percebendo que esses espaços só matavam as relações que podiam ser sagradas, a capsula EMBURREÇA-SE salvou-me, e adquiri o comportamento de dar um passo para trás pela paz. Com um universo de responsabilidades somadas em todas as minhas relações profissionais, emocional e sociais, eu precisava preservar-me em primeiro lugar. Isso! Assim eu me daria o primeiro lugar, a mim mesma. Ou seja para mim, sou o sol e a lua, ouro ou prata, garota nota mil ou deusa mitológica, e está tudo bem. Então a SSL cala-se por vez. E vem a força do conceito de coautoria como meu lema. Promover a coautoralidade sempre sem necessidade de retorno de medalhas metálicas, mas sim do sentimento de realização.

É preciso respeitar valores e marcas originais e isso não tem escambo que negue. Por exemplo, e já terminando meus pensamentos escrachados por sentir uma comichão forte nos pés. Para escrever esse texto precisarei de minha Olivetti Lettera 22, de folhas de papel, de fita datilográfica, de uma mesa, de uma cadeira, de algo que vem antes, certo? Por mais básico que seja qualquer recurso, precisamos do simples para criar o complexo. Quem criou esses recursos antes, também faz parte de minha obra. São coautores e coautoras comigo. O que veio antes preservou nosso hoje, para garantir o pulo do futuro. Esse antes tem que ser sagrado, abençoado e agradecido. O que vem antes é o que te salva. As cagadas dos outros podem te salvar também. Ou em meu caso me lascar. Cabe agora administrar a minha capsula, e não saí de meu caminho mais.

Na comunidade da vida, bichos trocam de pele, mudam os tons de pelugem ao longo de envelhecer e continuam sendo a mesma substância. Na metáfora do rio, seremos outras e outras a cada banho, mas nosso cu é o mesmo, ressignificado a cada lavada. Não tem problema em emburrecer-se às vezes, caríssima pessoa leitora. É bom ceder, dar um passo para trás, ou deixar de ver, mas desde que não macule o teu e nem os nossos valores conviventes. Se eu perder a minha essência sui generes monossilábica, perco a mim mesma. Por hora o melhor é dar descarga e deixar a minha obra, seguir para o mundo, no caso, ao mundo da fossa. Despeço-me com a cabeça leve, as pernas dormentes e o cu sujo. Mas não se pode ter tudo, apelo então, ao Estadão. Bom dia.

18 maio

Singelas felicidades

A partir de hoje, quero acumular em mim, apenas felicidades, é possível?
Os beijos e abraços repentinos recebidos das crias,
Os cochichos de: eu te amo mamãe!
A chegança na mente de textos sinceros,
A gratidão de sentir a presença de Deus a cada inspiração,
O cheiro do café no começo do dia,
O aroma do chá de cidreira no fim de uma noite,
O contar das histórias da vida andante,
As boas vibrações de quem me escuta,
O amparo das pessoas em alguns breves instantes,
Esquecer por um tempo a vida virtual,
Caminhar observando o que de bom me cerca,
Respirar maresia e tomar banho de mar,
Ouvir com atenção o barulho das ondas,
Encontrar com mulheres para trocar ideias,
Sentir acolhimento com o compartilhamento
De vivências da vida, com boas risadas,
Dividir comidinhas feitas com amor,
Ouvir uma playlist e deixar minha mente seguir para longe,
Trocar mil carinhos com o meu companheiro,
Dividir pensamentos e zelar pela prosa,
Deixar fluir em mim melodias tocantes,
Terminar o meu dia me dando perdão
Por não ter conseguido acumular, nem ao menos, a metade destas minhas singelas felicidades.

15 maio

Mãe Solo: produto do “pai doador”

Queridos (as) leitores (as),

Peço licença para publicar em um formato e frequência um pouquinho diferentes do usual, mas acredito que o tema vale a reflexão.

Na semana passada me deparei com um texto absurdo, de um machismo profundo e exacerbado, e de uma monstruosidade estupenda que me fez até estremecer.

O autor, uma pessoa que já fora relativamente próxima a mim, afirmava que um pai não tinha papel nenhum mais, assim que uma criança era concebida, já que ele funcionava apenas como um “doador”, de modo que se ele até mesmo viesse a falecer, de nada atrapalharia no desenvolvimento desta “cria”.

Chocada e revoltada, eu fiquei me perguntando quantos homens não devem pensar assim desta mesma forma.

Não à toa, o Brasil tem mais de 20 milhões de mães solo atualmente. VINTE MILHÕES, você leu certo! E os números só vem crescendo a cada ano.

Triste pensar que frequentemente me questionam a necessidade do feminismo, debocham do papel da luta feminista.

Sim! Com o machismo invadindo nossos próprios ventres e criando nossos filhos órfãos de pais vivos, ainda há quem insista em dizer que tudo isso não passa de um “mimimi”.

E vamos de poesia!

Esta, particularmente, escrevi assim que descobri que estava grávida de meu lindo bebê:

 

Quem eu sou
Agora que sou dois
Me perco no depois
Me acho no agora
Cá estou, já sem demora
E sei que não vou embora
Pois esse amor invade o meu todo
E resgata-me do antigo lodo
Somos!

 

Um abraço,
Graziela Barduco.

11 maio

Mãe possível

Ser mãe é doar o seu estado de presença. Vai além do amor incondicional. Por que será que só se fala mais, do amor incondicional da mãe? Por que não é comum também, se discutir o amor incondicional de um pai? Só daí, já começa a cobrança.

Não deixamos de ser mulheres depois que nos tornamos mães. Continuamos tendo outros diversos interesses na vida pessoal, amorosa, profissional. Então, porque, ao invés de questionarem as mulheres que querem continuar tendo (ou não) outras rotinas (além da maternagem), não são criadas oportunidades para que todas as mães possam fazer o que realmente desejam e precisam? Se trabalha fora e terceiriza a educação dos filhos, é criticada; Se fica em casa e deixa o emprego, também. Se engorda depois dos filhos, é desleixo. Se deixa de frequentar lugares, é antissocial. É conciliar vida amorosa, casa, corpo, saúde mental, trabalho profissional e tantas outras cobranças incutidas na mente da mulher ao longo de tantos anos, que é impossível não se sentir culpada por não dá conta de tudo.

Ser mãe não é sinônimo de você ter que se renunciar cem porcento. Qualquer que sejam as escolhas da nossa vida (seja ou não escolhendo ser mãe), sempre renunciaremos a algo. Tudo é questão de prioridade. E na construção de uma prole, não seria diferente não é mesmo? Então por que, nós mulheres, nos sentimos tão culpadas de tudo, principalmente no quesito maternidade?

A pressão social com certeza é um dos fatores mais determinantes. Produzir seres humanos de “sucesso” é a garantia do capitalismo continuar existindo. Então mulher, trate de garantir isso, porque se depender dos pais (homens detentores do poder), tudo estará em risco.

É por essas e outras questões que, cada vez mais, os discursos relacionados ao feminino vêm sendo reconstruídos. E toda mudança gera estranhamento não é mesmo? Mas tem gente que prefere dizer que feminismo é algo ruim, coisa de loucas que agem como macho e não querem se depilar (e mesmo se fosse, o que muda a vida de alguém elas serem assim?). O fato é que discursos generalistas e estereotipados, existem apenas para que nós, mulheres (as únicas que realmente sabem onde o calo aperta no dia a dia), nos sintamos cada vez mais culpadas e inibidas de sermos quem realmente somos. Como assim, compartilhar vitórias e acolher fraquezas? Vocês têm mesmo é inveja umas das outras!(Que mulher nunca ouviu isso na vida?)

Por que será que tantas mulheres se sentem ainda mais sozinhas quando se tornam mães? Somos humanas. Somos MULHERES. É urgente que tenhamos um olhar mais empático com as nossas próprias questões. Inclusive a de julgar (ou tentar justificar) os porquês das mulheres que decidem NÃO SER mães. Isso é uma escolha de cada uma e tá tudo certo. Será que um homem que não deseja ser pai é tão questionado assim?

Não cabe mais, nos dias de hoje, a gente julgar uma igual (seja ela mãe ou não) por qualquer motivo que seja. Vamos ser o que é possível, e aplaudir o esforço da luta de cada uma. Sororidade já!

E se em algum momento, a gente conseguir uma brecha para sair da própria luta individual (que também não é nada fácil) e conseguir ajudar uma outra mãe com a luta dela (mesmo que a sua luta pareça ser a maior de todas), com certeza em algum momento o nosso fardo se tornará mais leve. Não basta apenas falar: – Vai passar! Se puder ajudar a tornar leve o que tá pesado pra ela (naquele momento), tenha certeza que isso jamais será esquecido. Seja chegando com uma comidinha pronta ou propiciando uma simples conversa lavando uma louça, dando um banho num filho dela pra ela poder tomar o próprio banho, ficando algumas horas com as crianças dela pra ela poder dar uma saidinha com companheiro, ou mesmo, poder cochilar sem interrupções. São ajudas tão “tolas” que nem parecem ter tanta importância né? Mas toda mãe sabe o quanto essas pequenas ajudas revigoram suas energias.

Haverão aqueles que pensarão: – Então porque teve filhos? E porque teve mais de um filho se não pode bancar babá, escola x, y, z? Mas, e se não fosse essas corajosas para colocar esses seres humanos no mundo, o que seria da nossa espécie? Tendo filhos ou não, todos somos responsáveis pelas crianças deste mundo. Nem todo mundo é mãe, mas todos vieram de uma! Vamos valorizar mais o maternar e julgar menos. Todas as mães dão aos seus filhos aquilo que é possível, principalmente as mães solo. O impossível, o incondicional, vamos deixar para os contos de fadas. Aliás, até os autores (as) de contos de fadas já estão mudando essas narrativas. Mas isso é papo para um outro artigo. Finalizo hoje, com este decassílado escrito para a minha obra Maternagem em Sete Versos, publicado pela Editora MWG.

MATERNAR É EXALAR
AMOR EM ESTADO PURO
TER FÉ, SER PORTO SEGURO,
EM SITUAÇÕES DO FALAR
RIR E TAMBÉM SILENCIAR
NÃO DEIXAR DE OUVIR OS BANJOS
AFINADOS PELOS ANJOS
GUIAR COM SIMPLICIDADE
ENTENDER NOSSA VERDADE,
MELHORANDO SEUS ARRANJOS!

Um xêro na alma,
Dani Almeida

01 maio

Dia Internacional do Trabalho – Um conto

As três mulheres se encontram como sempre, no lugar de sempre, mas não no quando de sempre. Aquele dia não era um dia de sempre. Comemorava-se o Dia Internacional do Trabalho. Sim, a informação veio da Cidade  e tinha saído na Rádio Difusora também, que a partir daquele dia, todo dia 01 de maio, em todo mundo, o mundo iria parar de trabalhar. Mas para aquelas mulheres sertanejas não fazia sentido ser um dia do trabalho em que não se trabalhava. Ao bem da verdade, todas ali não conseguiam muito bem separar que era trabalho, o que era emprego, o que era função, o que era obrigação, o que era sina.

Naquele povoado de Tacaratu, em Pernambucano, as pessoas viviam a vida de sempre. Rotinas cíclicas. Memória concretizada nos ritos e tradições das povoações originais e que, cada vez mais intensamente, via-se aglutinando a modernidade das ondas do rádio, dos folhetins, do cinema e do circo. Até os livretos de cordel ditavam a “moda” para o momento e regras sociais a serem seguidas.

Aquelas três mulheres tentavam entender por que em plena segunda-feira, em um dia do Trabalho, não poderiam seguir seus cursos regulares. Não ir à casa da Patroa, não pegar a encomenda da costura, não cuidar de nenhum idoso. O que faziam então era estar ali no terreiro enquanto a criançada, sem aula, caia solta no mundão do mato. O que poderiam fazer era prosear, mas o acertado era a proibição de falar sobre seus respectivos trabalhos!

Rotina quebrada, fala quebrada. As três mudas apenas estavam no dia. Não conseguiam ser o dia. Aquelas rotinas eram a salvação das três. Longe de suas não-escolhas de vida, viviam outros papéis. Em uma brincadeira criada por elas. Cada uma fantasiava suas relações com os maridos, filhos e comunidade aos seus patrões. E todo domingo à noite, quando as crianças davam sossego, os capítulos da semana eram narrados com toda a competência das atrizes das radionovelas.

Mas naquela manhã, não tinham assunto. Já tinham gasto tudo na noite anterior. Era feriado. Sorte delas quando estavam para subir na Rural com destino ao Centro, o filho de rama de Zefa grita: “Mãe hoje é feriado. Tem aula nem trabalho, não!”. Que diacho! E agora estavam ali, as três. Maria sentada no batente da cozinha olhando a linha da Serra. Zefá encostada no Pé de Juá tratando fumo e olhando o céu. Tonha de pé, ciscando o chão com um galho de goiabeira e de vez em quando rodopiando, dando uma pisadinha aqui, e uma pisadinha ali.

Foi aí que Maria desencantou-se das ideias, e quebrando o silêncio delas, misturando com o som do mato falou:

– Oia, diz que está todo mundo parado hoje, sem fazer nada hoje, dia de todo mundo ficar paradinho e descansar. Será mesmo?

Zefa começa a pitar o rolo e sem desviar o olho do céu esturricado de azul, sem nuvem alguma, diz:

– Parado, parado ninguém num fica é não. Tu fala isso mas eu estou aqui, fumando parada, mas minha cabeça fica pensando, pensando…

Tonha que além de ciscar o chão, agora rodopiava cantarolando uma ladainha que ninguém entendia, vira para Zefa e pergunta:

– E se eu disser que já sei o que tu está pensando, deve ser o mesmo que eu.

– Estou pensando em comer uma buchada de bode, que é comida de feriado! Esse negócio de ficar parada só dá fome mesmo. E logo hoje, que lá em Dona Dulce ia fazer carne de boi. Eita nóis viu?! Responde Zefa, rindo alto.

– Mas quem é que para mesmo, com seis zombeteiros, como eu? Maria comenta. – Seis meu, com mais quatro teu e os dois de Maria, já é uma aldeia todinha de capetas! Resmunga.

– Opaí mulé! Meus filhos são um bem, uma benção. Crio do meu jeito. Olha vai cuidar da tuas lavagem de roupa, que os meus meninos cuido eu, de meu jeito ouviu? Responde Zefa aos berros.

– Ei, podem parar com essa bobageira de briga! As coisas tem acontecer é assim mesmo Deus quer. O que vem no bucho da gente e o que vamos dar a Mãe Terra de volta. O que eu tava pensando, Zefa, era sobre aquele outro assunto que falamos ontem depois da prosa!

– Ah sim. Maria que acha de irmos lá falar com a Cachimbeira sobre teu problema?

– Tenho problema nenhum, para Cachimbeira resolver. Zé é assim mesmo. São seis meninos. É duro para mim e para Ele também. E toda vez que ele está com o negócio de mentirinha, eu descubro. Faço um prato caprichado, mais umas lapadas de cachaça, umas rodadinhas de coco e o desavergonhado solta tudinho. Vou lá, no outro dia. Dou uma pisa na “moça” e acabo com tudo. Ele descobre que fui eu e me dá umas lapadas e depois fica bem. Também num tem mais nenhuma sirigaita! Responde rindo, Maria.

– Maria não pode ser mais assim. Tu precisa mesmo de ajuda. Agora está sossegado. Ele está lá, junto com João e Zé na Budega de Sabina, mas não se esqueça que o peste te empurrou na parede novamente. Da outra vez quebrou tua mão e dessa vez, tu perdeu o menino. Tonha suplica.

– Vida miserável. Mas como ficar sem Raimundo? Sou mulé dele desde os 14 anos de idade. Como uma tuia de mulheres daqui, fui prometida desde nova. Essa coisa de casar com primo tem em todo lugar. A minha patroa é prima do marido dela!

– Oia, cabando com essa conversa mole e caldo de fava! Simbora falar com a Cachimbeira, e botar para render esse dia. Num é feriado mesmo?! Proclama, Zefa.

As três sobem a Serra e descem até o vale, chegando na Gruta Itaoca, morada da Cachimbeira. Metros antes da entrada é possível sentir o cheiro do fumo forte e de uma misturada de outras ervas do rezo sagrado. A velha Pankararu vivia a anos morando no mato e vivendo do que ganhava, plantava e caçava. Dizem que perdeu o juízo quando o marido a largou e levou a filha para fora do Brasil, para nunca mais. Dizem, que aquela pessoa que vem atras do saber e da cura da Cachimbeira são pessoas que não tem medo da verdade. Pois as pessoas fracas e que não aceitam o segredo, enlouquecem com suas palavras esfaqueantes.

Maria chorou o caminho todo até a Serra, lembrando a violência que vinha sofrendo anos a fio. Cada filho seu era fruto de uma sessão de agressão sexual. Nas entressafras, como Ela chamava, quando Raimundo se apaixonava por alguma mulher nova, Maria era esquecida. Mas quando algo falhava nos planos de Raimundo, suas decepções da rua transformavam-se em tabefes e socos no lombo de Maria. As sessões de xingamentos e violência física eram abrandados com mais álcool. Na sequência, Raimundo mandava Maria vestir uma roupa de Missa e seguia-se aos eventos de tortura e estupro. E se Maria engravidasse, a vida era bela. Ela amava estar grávida. Nesses períodos, Raimundo a tratava bem. Cuidava de Maria com tanto zelo que chamava atenção de todo povoado. Raimundo se esforçava ao máximo, dando conta de até três jornadas de trabalho para garantir a boa-vinda da criança.

Raimundo amava os filhos mais que tudo no mundo. Raimundo não amava Maria. Amava a capacidade de Maria ser mãe de filhos bons para Ele. Maria sabia disso. Nem sempre Maria engravidava. Até ter a confirmação da gestação, Ela também não apanhava. Houve momentos em que Maria mentiu quando percebeu que não estava grávida de fato. Mas não foi muito bom o resultado. Foi nessa ocasião que Raimundo quebrou a sua mão em uma surra, quando percebeu que Maria estava mentindo já que a barriga não crescia.

O som do agitado maracá da Cachimbeira quebra o pensamento de Maria. Todas cumprimentam a anciã com um beijo na mão, e sentam-se em sua frente. Ela começa uma dança ritmada e evocações com cantos que fazem as três sentirem-se leves e seguras. A energia do lugar muda de mistério para colo e a gruta clareia-se como um encanto. As três abrem os olhos e a Cachimbeira está de volta ao mesmo lugar, olha para cada uma e fala:

– Podem perguntar ou pedir. Lembrem-se: Faça a pergunta certa, para ter a resposta certa. Peça o que tem direito, para ser aceito. Peça o que é errado, tenha caminho maldado.

– Senhora, nossa irmã está passando… Tonha é interrompida pela Cachimbeira, que vira-se para Maria e diz:

– Tu tá apanhando muito. Todo dia leva uma lapada de toalha molhada, para não aparecer as marcas. Tu tás saindo por aí e dando pisa nas mulé, que não merecem apanhar. Elas já tomam de mais da vida. E principalmente do cão que é teu marido. Tu sonhou já com o que vai fazer. Tu sabe o que é preciso fazer. Tua mãe era do rezo. Ela te ensinou também. Tenha a coragem, a vontade tu já tem. Organize as ideias. Pergunte a coisa certa ou faça o pedido certo. Só posso atender uma vez. E nada mais.

– Que sonho foi esse? Pergunta Zefa.

– Conte agora. Tu só fala das tuas invenções lá com tua Patroa e nunca fala a verdade para tuas irmãs. Reclama, Tonha.

– Sonhei que estava indo para a Delegacia do Distrito para dar queixa de Raimundo. Estava vestida como a minha Patroa, de salto, vestido escuro, luvas, chapéu. Estava bem maquiada e até com perfume fino. Só sonho mesmo… Mas então entrei na delegacia e fui bem recebida pelo Delegado Araújo. Ele me recebeu todo lorde e gentil. Era como se fosse umas nove da manhã. Comecei então a contar o que acontecia e mostrava também as marcas em meu corpo. A cada informação que eu falando, Delegado Araújo ia ficando vermelho e maior, seus olhos iam cada vez mais escurecendo e começou a exalar um odor ardido e que queimava as narinas. Ao mesmo tempo que eu ia dizendo que essa violência era vivida por outras mulheres do povoado e por outras mulheres do mundo, as ruas, casas e lojas, praças e prédios públicos iam se destruindo e desfazendo todo lugar. Até chegar em nosso redor e só restarmos Eu e Ele sem chão, flutuando no vazio. Então o Delegado Araújo me abocanha de uma vez e me engole. Quando Ele faz isso, o povoado volta todo ao normal.

– Eu não entendi foi é nada. Reclama Tonha.

– Se tu tiver aqui apenas para fazer sombra, toma chá de Mulungu e vai te embora. Tua irmã precisa de ajuda. Todas têm que rodar para ajudar. Retruca a Cachimbeira.

– O que entendi é que Maria tem o poder de acabar com isso tudo. Mas tem que fazer de um jeito certo. Porque o mundo em que vivemos, essa vida pequena, não vai dar conta de cuidar de uma mulher violentada pelo marido. Vão dizer que é coisa de casal. Ainda mais Delegado Araújo, que dizem até que apanha da mulé dele. Meu entendimento é que tem que ser por outra justiça, que é preciso fazer o certo. O certo para nós, que vivemos isso na pele. Todo dia. Menos em dia de feriado. Argumenta Zefa.

Maria fica calada um tempo. A Cachimbeira coloca-as assentadas e começa a lançar fumaça do cachimbo em cada uma. Sagra o momento e aplica-lhes o rapé. Um silêncio profundo se instala. Por um tempo necessário, as três mulheres choraram, abraçaram-se, cantaram, dançaram, banharam-se de ervas, vestiram-se de mato e comeram juntas.

Maria se levanta como se tivesse pisado em urtiga e solta:

– Já tenho a pergunta para fazer. Na verdade a pergunta é para a Senhora e o pedido é para as minhas irmãs. Posso?

As duas afirmam com a cabeça e a Cachimbeira reforça:

– Podem perguntar ou pedir. Lembrem-se: Faça a pergunta certa, para ter a resposta certa. Peça o que tem direito, para ser aceito. Peça o que é errado, tenha caminho maldado.

– Senhora dona da sabedoria dos ancestrais, da cura e do fazer, o que eu estou pensando em fazer agora, na minha cabeça, vai dar certo? Pergunta Maria.

– Sim! Responde a Cachimbeira agitando fervorosamente seu maracá e firmando uma pisada no chão.

– Irmãs, as duas dão conta de me ajudar a dar conta do plano?

Tonha e Zefa dizem que sim.

As três despedem-se da Cachimbeira e retornam ao povoado.

Dia de Lua, festa na rua, bandeirolas, comes e bebes. Povo enfeitado e colorido, esperando a roda de Coco de Tebei para celebrar o noivado e a pisada do barro da casa de Nena, filha de Dalva da Venda, e de Juarez, sobrinho de Vital da Farmácia. As irmãs estão juntas proseando sobre a vida.

– Ana vai dançar mais Juninho mermo Tonha, ou vai desistir que nem festa passada? Pergunta Zefa.

– Vai sim, oxe, Ele está querendo muito. Vai ficar bonito os dois. Zé vai trazer ele agorinha. Tão terminando a última jornada de hoje, vão banhar e vêm. Estou doida para dançar. Responde Tonha. Pena, que tu num pode, né Maria?!

– Pois é, mais uns dias e eu tiro esse preto de mim. Mas meus filhos, eu já liberei tudinho. Já está bom de luto.

As três riem e seguem para o meio da festa.

______________________________________________________________

Maria Rosa

São Paulo, 01 maio 2023

 

 

 

20 abr

Carta à minha filha

Filha, desculpe por isso. Também sou criança e ainda tenho atitudes imaturas. Desculpe por tudo que idealizei e não cumpri, não só por mim, mas por nós, por um projeto. Você veio para nos completar mas você transbordou, de tão bela e maravilhosa, você é muito maior que nós juntos. Você veio pra transcender, pra ser a expressão do que nós fomos em dois. 

Você é o amor, é fruto dele e me faz pensar o quanto construir essa ideia, mas não consegui, filha. Me sinto fracassada, não por você, mas por mim, pelos meus planos e te coloquei no meio disso… Você todo dia fala em nós, como te conforta, era só o que eu queria, nós juntos, mas eu fracassei, meu amor.

Desculpa por isso… desculpa não cumprir com o prometido ou pelas frustrações… mas você é só uma criança, ainda vai ver muita coisa, e ainda iremos viver muito.

Sinto sua falta em tudo, quando está longe. Às vezes deixo tudo do mesmo jeito de quando você saiu, só para ter a sensação que você está aqui comigo e eu não estou sozinha. Entro no seu quarto várias vezes, vejo seus brinquedos, suas roupas e dou risada sozinha lembrando de suas brincadeiras… Entro no banheiro e vejo sua escova de dente, tão pequenina, fica lá no mesmo canto, até você voltar e usá-la novamente, toda semana, no mesmo ciclo…

Mas eu queria mesmo era todo dia você por perto, sinto sua falta em tudo, seu cheirinho suado, sua risada natural, suas histórias de um dia na escola, queria isso todo dia…

Mas filha, eu tenho você todo dia, por que eu sinto você pensando em mim e o quanto sentimos falta uma da outra. Nossa conexão é tão nossa, as suas palhaçadas, as nossas aventuras no caminho da escola, você me entende tanto, e você só tem 3 anos, como pode?

Você me acolhe quando estou triste, o seu abraço com esses bracinhos tão pequenos, me dá tanto conforto, tanta confiança… 

Ser mulher, já somos julgadas e nos sentimos culpadas, quando chegamos na maternidade isso reforça, a culpa vem sem medo e às vezes só o choro resolve e nos coloca no lugar. Os resultados a gente vê quando você me fala, sem eu estar esperando: “mamãe eu te amo”. Isso me derrete toda, eu deixo tudo e vou ao teu encontro te cheirar muito. Você ainda não sabe a imensidão que essas palavras vindas de você significa pra mim, um dia saberás, mas o nosso cotidiano sempre será de muito afeto e respeito para demonstrar o quanto sou grata por ter me escolhido como mãe. 

Filha, desculpa! Mesmo que eu saiba que nós mulheres a todo momento somos apontadas ao tribunal do julgamento, essa culpa parece que não quer desaparecer da gente. Ela vem intensa e solitária e em alguns momentos nos põe lá no chão. Mas chega você com toda delicadeza e um sorriso gigante, abraçando minhas pernas, e quando a culpa desaparece eu falo: “deixa eu aproveitar aqui que eu ganho mais”. Você entenderá quando crescer, espero que já esteja forte o suficiente para não absorver esse tipo de sentimento, farei de tudo para te fortalecer, mas espero pelo menos que entenda essa culpa que carrego e por isso só consigo te falar: desculpa, filha!

Entretanto, mesmo com tanta culpa não posso deixar de te agradecer pela grandeza que é você e o quanto só a sua presença me impacta e renova minha vida. Obrigada pela paciência comigo, com meu processo de aprendizado, como disse lá no começo, muitas vezes minhas atitudes são imaturas e ajo na emoção, mas saiba que sempre é querendo o melhor que eu posso te dar, esse sempre é meu objetivo. Depois que você floresceu nossas vidas eu só consigo viver pra te fazer uma mulher poderosa e dona de si e eu não quero só te dizer isso lá na frente, eu quero que você tenha exemplos assim ao seu lado, que possa se espelhar e seguir seu próprio caminho. A culpa some quando penso nisso, porque no final eu sei qual sentido devo ir!

Obrigada mais uma vez por tudo que fez na minha vida!

Te amo

De sua mamãe!

09 abr

Não é fácil ser mulher

Não é fácil ser mulher
Nesse nosso dia a dia
Enfrentamentos e lutas
vida bruta e covardia
Não é fácil ser mulher!
É preciso Rebeldia!

Não é fácil ser mulher
e ter que ficar calada
nossos corpos violados
nossa voz silenciada
Há tempos nos questionam
nossa opinião julgada.

Não é fácil ser mulher
Temos corpos invadidos
uma gozada na nuca
nossos desejos agredidos
uma passada de mão
Nossos corpos são vendidos

Não é fácil ser mulher
julgam na maternidade
quando não querem ser mães
afetam a integridade
e se por estar solteira
falam de promiscuidade

Não é fácil ser mulher
Se impõe, é arrogante
se não se expõe, é omissa
falar alto é extravagante
falar baixo é vitimista
Se discorda, é intolerante

Violência, abuso e assédio
Ações do cotidiano
Sofrida em todas idades
Julgamento leviano
Não é fácil ser mulher
Nesse contexto mundano!

Não é fácil ser mulher
Com os dedos apontados
A sociedade opressora
não respeitam os legados
na escola ou no trabalho
nossos corpos relegados

Não é fácil ser mulher
homicídios , opressão
espancamento e gritos
no trabalho, exploração
chega de ficar calada!
vamos formar um cordão

Não é fácil ser mulher
é preciso ousadia
derrubar os inimigos
que nos prendem todo dia
a tarefa é coletiva
Não se cabe a covardia

Se unam a nossa luta
pra nossa classe vencer
o inimigo é todo aquele
que faz seu sangue se perder
nos dividem e nos exploram
para nos adoecer

Não é fácil ser mulher
Mulher não é fácil ser
Mulher se levanta e vamos
a ordem desobedecer
Daqueles que nos oprimem
Mulher, vamos nos erguer!

Por Maria Clara Psoa – Não é fácil ser mulher!

1 4 5 6 7 8 12

Visite nossas redes sociais